Páginas

sábado, 17 de novembro de 2012

CAPÍTULO XI



CAPÍTULO XI

— Vi você e Joe na praia ontem à noite — disse Ashley durante o café da manhã.
Demi ficou corada e decidiu não tirar os olhos dos croissants. Onde Joe teria passado o resto da noite, já que não voltara mais para o quarto?
— Vocês estavam na praia, não estavam? — Ashley pressionou Joe.
— Demi sentiu vontade de nadar. — Isso foi tudo o que Joe disse, mas Demi ficou corada só de pensar que Ashley havia visto os dois na intimidade ou o que acontecera logo depois.
Pouco depois Ashley recebeu um telefonema de Paris e voltou para o jardim muito mais animado.
— Era um amigo — disse ela, deitando-se na espreguiçadeira. — Jean Paul quer que eu volte para casa. O que você acha chéri? — perguntou ela, provocando Joe. — Devo ir?
— Essa decisão cabe unicamente a você — respondeu Marian, com firmeza. — Jean Paul tem tido muita paciência com você, Ashley, mas tome cuidado, ninguém consegue esperar eternamente. E, pelo que sua mãe me contou, ele é um homem de negócios muito bem-sucedido. Não jogue fora a sorte!
Com certeza, essas palavras tinham tocado no ponto certo, porque depois de alguns minutos Ashley pediu licença e correu para dentro, voltando mais tarde apenas para explicar que reservara uma passagem no próximo avião que partiria de Nice para Paris.
— Você me leva ao aeroporto, Joe?
Demi desculpou-se e saiu, não querendo presenciar a garota francesa tentando seduzir abertamente seu marido.
A agradável brisa da noite anterior desapareceu, transformando-se num vento forte, e a temperatura caiu vários graus. Dizer que estava com dor de cabeça não era mentira; até Nicky parecia um pouco abatido.
Foi Héloise quem explicou o que tinha ocorrido, quando lhe trouxe um comprimido.
— Isso acontece por causa do Mistral. Ele sempre mexe com as pessoas — disse ela, sem se preocupar.
O remédio deixou Demi sonolenta. Ela não sabia se Joe havia levado ou não Ashley até o aeroporto. Será que a moça sabia alguma coisa do passado deles?, Perguntou-se, com ressentimento. Já tinha lutado uma vez pelo amor de Joe e não conseguira nada; por que então pensava que agora seria diferente?
Seus pensamentos estavam muito confusos. Fechou os olhos e logo em seguida adormeceu.
Acordou depois de algum tempo, sobressaltada, estranhando o silêncio que envolvia o lugar. Algo lhe dizia que o perigo era iminente. Onde estava Nicky? Já tinha passado muito tempo da hora de ele descansar e com certeza Héloise a teria acordado se fosse colocá-l o na cama. Tremendo de medo, Demi entrou correndo no quarto do filho. Um dos sapatos do menino estava jogado no chão e o adorado patinho dele descansava sobre a cama.
Convencendo-se de que precisava reagir, Demi foi até a cozinha. Não havia nem sinal de Héloise e, mordendo os lábios, lembrou que Marian tinha dito que ela e François tiravam sempre a mesma tarde de folga.
— Assim François leva Héloise até a casa da família dela e depois a traz de volta — tinha explicado a Demi.
— François tem alguns parentes que cuidam de um bar e sempre vai visitá-Ios.
A cozinha vazia fez seu pânico aumentar. Onde estavam todos? E Nicky?
Ela foi até o quarto de Marian, esperando que ela estivesse descansando, mas a cama estava arrumada.
— Nicky! — chamou, quase sem voz.
O medo dominou-a ainda mais quando ela saiu da casa em direção à piscina, temendo a cada minuto descobrir o corpo inerte de seu filho boiando na água azul.
A piscina também estava vazia.
Sentia-se febril e confusa. Revistou a vila e os jardins de ponta a ponta, chamando por Nicky até que ficou sem voz. Todos deviam ter saído pensando que Nicky estivesse com a mãe, com quem ele deveria estar realmente se ela não fosse tão egoísta a ponto de se preocupar tanto com os próprios problemas.
As lágrimas queimavam-lhe os olhos, mas Demi tentava contê-Ias. .
De repente, deparou com o portão que levava à praia.
Aquela escada tão estreita e perigosa era, com certeza, atraente para uma criança levada de dois anos, pensou com desespero.
Desceu os degraus, ignorando os arranhões em sua pele delicada, procurando pelo filho freneticamente nas fendas das rochas onde as terríveis águas do mar batiam com violência. Onde poderia estar? Sozinho e amedrontado, provavelmente chamando por ela, se ainda estivesse vivo.
— Pelo amor de Deus, não! — As palavras saíram com desespero dos lábios pálidos. Seus olhos se arregalaram de medo e terror e sua respiração tomou-se cada vez mais ofegante quando olhou para o mar.
Não havia sinal do garotinho.
Voltou para a vila e ficou observando o telefone mudo.
Onde estava Joe quando ela mais precisava dele? Se pelo menos alguém aparecesse! Ela não sabia falar quase nada em francês e, mesmo que conseguisse entrar em contato com a polícia, como poderia fazer se entender? Onde Nicky poderia ter ido? Ele era tão pequeno, incapaz de andar por mais de dez minutos sem se queixar que as pernas estavam doendo e pedir colo. Ele era tão amado, tão maravilhoso! A motivação mais importante de sua vida, e, só de pensar em perdê-Io, sentia unia dor imensa.
Ela ouviu um carro parando e saiu correndo. Deu um suspiro de alívio quando viu que era Joe. Ele estava manobrando e não a tinha visto. Com medo que ele fosse sair novamente, Demi jogou-se desesperadamente contra o automóvel, estremecendo de dor quando o pára-choques bateu em seu corpo magro. Em meio ao ruído dos freios e seu grito de dor, ela ouviu a porta do carro se abrindo e a voz de Joe:
— Sua louca, o que está tentando fazer? Matar-se?
Ela começou a dizer-lhe que Nicky havia desaparecido, mas perdeu os sentidos e não conseguiu falar mais nada.
Nos sonhos tumultuados, ela procurava Nicky, a respiração ofegante, o corpo em febre, sempre chamando o nome dele, mas o garotinho a evitava. Uma ou duas vezes, Joe apareceu nos pesadelos com uma expressão acusadora quando perguntava o que ela havia feito com o filho dele e, embora Demi pedisse para ser perdoada, ele nunca o fazia.
Algumas vezes, ela voltava ao passado quando ainda existia Joe. Acordou durante um desses sonhos e percebeu que dormia na vila. O céu estava escuro e repleto de estrelas brilhantes. Sentiu alguém sentado a seu lado. Ela tentou virar a cabeça, muito pesada, e reconheceu Joe.
— Nicky — conseguiu dizer, com dificuldade. — Onde está Nicky?
— Está seguro com Héloise. E muito preocupado com a mãe. O que aconteceu para você se jogar na frente do carro?
— Eu não conseguia achar Nicky... — Ela tentou forçar a memória. — Não havia mais ninguém por aqui. Eu... As lágrimas começaram outra vez a correr-lhe pelo rosto e ela mordeu o lábio com força. Seu corpo doía por causa dos arranhões e machucados causados pela batida.
— Ele não estava perdido — disse Joe, com calma. — Eu pedi que Ashley falasse a você que nós íamos levá-Io ao aeroporto para ver os aviões.
— Ele estava com você o tempo todo? — Demi começou a rir, um riso histérico misturado às lágrimas. — Eu não sabia... Eu nunca recebi seus recados.
— Nem a primeira vez — disse Joe enigmaticamente.— Você sabe que está com uma febre muito alta durante três dias?
— É mesmo? — Ela estava completamente indiferente.
— Posso ver Nicky? — ela quase implorou. — Por favor, Joe, não me atormente mais!
— Claro, Demi! Fique calma, por favor. Vou pedir a Héloise que o traga aqui e depois você deve tentar dormir.
Nicky estava tão bem que ela sentiu vontade de chorar. Passou as mãos pelo corpo do menino, que tentou se esquivar. Mas Demi não resistiu ao desejo de abraçá-Io e assegurar-se de que não estava sonhando.
— Querido! — sussurrou, abraçando-o com os olhos lacrimejantes quando viu Joe entrar no quarto.
— Agora vá com Héloise, Nicky — disse Joe, com calma.
— A mamãe precisa dormir.
— Sim, eu sei. Porque ela ficou muito doente!
— Eu estou bem melhor, querido. — Demi afagou-o com suavidade, entregando-o a Héloise. Já tinha passado muito tempo da hora de ele dormir, mas Héloise explicou que o médico dissera que Demi poderia acordar a qualquer momento, e eles mantiveram o menino acordado porque sabiam que ela gostaria de vê-Io.
— Por que você estava pensando que eu queria castigá-Ia? — perguntou Joe, quando eles ficaram sozinhos.
Demi pensou que ele ia sair do quarto junto com Nicky e Héloise, porém ele ficou aproximando-se da janela antes de olhá-Ia e fazer a pergunta.
— Eu disse isso? — perguntou ela, a voz fraca. — Eu...
— Em seus sonhos... Durante a febre... Era uma ideia fixa — explicou Joe. — Você me pedia o tempo todo que a perdoasse e também implorava para que eu não a ferisse nunca mais.
— Eu estava apavorada imaginando que você iria me responsabilizar por não cuidar bem de Nicky — admitiu Demi. — Será que pode me deixar sozinha, por favor, Joe? Eu... Eu estou muito cansada.
Ela não suportaria mais nenhuma pergunta dele. Se Joe continuasse a pressioná-Ia, fatalmente ela acabaria se denunciando e admitindo que o amor e a compreensão dele era tudo o que queria.
Depois que ele saiu Demi não conseguiu dormir. Tomou um banho e voltou para a cama, contando carneirinhos até que finalmente o cansaço a venceu.
Ela sonhou outra vez. Aquele sonho em que acordava e Joe não estava lá. Com medo, ela chamava incessantemente pelo nome dele em meio a gemidos de dor, não percebendo que não estava sozinha até o momento em que acordou nos braços de Joe.
Era óbvio que ele já tinha se deitado havia muito tempo, pois o relógio marcava três horas da manhã, e a cama estava muito quente.
— Demi...
— Não me toque — disse ela, soluçando, ainda magoada com as lembranças do sonho. — Você não se preocupa comigo. Só consegue ser carinhoso com Nicky.
Ele acariciou os cabelos dela e perguntou:
— E você quer que eu seja carinhoso com você também?
Ao ouvir a pergunta Demi ficou gelada, e seu coração disparou. Ele passou o braço por ela, abraçando-a com ternura.
— Você quer Demi? — repetiu ele. — Era isso que queria na praia? Que eu a amasse?
Joe começou a beijar-lhe os ombros, e Demi sentia necessidade de reagir. Mas, ao lembrar a maneira cruel como tinha sido rejeitada, ela encarou-o com olhos assustados.
— Você realmente ia se entregar para mim, querida? Não estava apenas brincando como eu pensei? — Havia um tom suave naquela voz, e seus lábios excitavam delicadamente a pele de Demi.  O corpo dela tremia contra o dele e, apesar de tentar esconder isso, Demi sabia que Joe estava percebendo. Ele beijou-lhe carinhosamente a nuca, provocando sensações inacreditavelmente deliciosas, e os lábios dela tiveram de permanecer bem fechados para não soltar algum gemido de prazer. Joe começou a acariciar-lhe a pele, afastando a delicada camisola de seda, deixando-a inteiramente nua.
Beijou o pescoço e depois foi descendo pelo colo.
Desta vez era impossível esconder as reações. A garganta de Demi doía por causa da tensão, e a cabeça ia caindo de encontro aos travesseiros enquanto ela pedia que parasse.
Ele sorriu.
— Na verdade você não está querendo isso, está? Aquela criatura ardente que saiu do mar e veio na minha direção não pode ter desaparecido completamente. — Ele a abraçou, segurando-a com força, a boca procurando vagarosamente a dela, antes de beijá-Ia apaixonadamente.
Os sussurros de satisfação dele fizeram com que Demi quisesse responder e, apesar de ter prometido a si mesma que não trairia os próprios sentimentos outra vez, começou a ceder.
Sua pele queimava, a boca estava seca com tanta ansiedade. Ela tocou o corpo de Joe com paixão, sentindo que ele estremecia a cada carícia suave.
— Meu Deus, Demi. — Joe abraçou-a com força, para mostrar-lhe o efeito que esses toques delicados estavam causando nele. — Dessa vez não há retorno para nenhum de nós — preveniu ele, acariciando-lhe os seios. — Não há brincadeira, nem... — Ele a beijou com ardor, dominando o corpo dela com o seu e aumentando cada vez mais o desejo de Demi.
— Quero você, Joe — sussurrou ela. — Não me deixe dessa vez. Não pare...
Ele acariciou os cabelos de Demi, a respiração tornando-se cada vez mais profunda. Abraçou-a com ternura e delicadeza, intensificando o prazer dela até a satisfação total.
Houve um momento em que ela pensou que ele ia se afastar. Segurou-o pelos ombros, mas Joe a tranqüilizou.
— Está tudo bem, querida... Tudo bem. — Então a possuiu completamente. Demi suspirava contra os lábios dele e, com voz tranquila, Joe continuou: — Deixe-me tê-Ia totalmente, Demi, de corpo e alma...
O desejo deles foi satisfeito plenamente em ondas de prazer avassaladoras.
— Você gostou querida? Você me quis exatamente como na praia? — lembrou Joe.
Na praia! Isso a fez se lembrar de coisas que já tinha praticamente esquecido.
— Foi diferente. — Eles tinham feito amor, mas ainda precisavam resolver tantas coisas!
Joe tomou o rosto dela entre as mãos, estudando-o cuidadosamente, beijando suavemente aqueles lábios trêmulos.
— Por quê? Porque tia Marian tinha acabado de lhe falar sobre a minha doença? Oh, sim, eu sei. Ela me contou tudo durante esse tempo em que você esteve na cama. Foi isso que destruiu todas as barreiras, Demi? Por isso você correspondeu com tanta paixão?
Ele acariciou a nuca de Demi enquanto ela tentava esquivar-se daqueles carinhos. Ainda agora, depois de ter sido amada, sentia um pouco de medo.
— Você já sabe porque fiz isso — respondeu Demi. Tudo fazia parte de seu plano para acordar a mulher que existia em mim, não é? E então rejeitar-me como...
— Da mesma forma como pensei que você fosse me rejeitar? — perguntou Joe. — Foi isso o que pensou? Foi?
Ela ficou em silêncio durante um longo tempo porque se sentia incapaz de falar.
— Você realmente quer saber a verdade? — perguntou ele finalmente.
Demi respondeu que sim, desejando ser capaz de suportar qualquer coisa que ele pudesse dizer.
— Quando você saiu do mar daquela forma, percebi que era a mulher mais atraente e sensual que já tinha visto, e então, da maneira como você me correspondia... Você sabe há quanto tempo sonhava em tê-Ia daquele jeito? — perguntou ele, zangado. — Por Deus, Demi, todos aqueles meses que eu passei na África, sofrendo, e depois voltando tão doente! Quase cheguei a odiá-Ia, meu amor. Eu podia entender que você estivesse magoada, mas nunca pensei que fosse me rejeitar completamente. Dizia a mim mesmo que conseguiria esquecê-Ia.
Ele continuava a acariciá-Ia, e ela correspondeu.
— Então me ofereceram um emprego na América e não aceitei. Londres era mais atraente. Não era difícil encontrar-me batendo à porta daquele apartamento, implorando que você voltasse para mim. E então voltei e a primeira pessoa que encontrei foi você, mas você estava mudada: estava fria e me odiava... Exigia que eu me sentisse culpado!
Você parecia tão distante que eu nem conseguia compreender por que você me recusava. Pensei que estava tentando fazer com que me sentisse um monstro! Aí descobri a existência de Nicky, e tudo começou a ter sentido. Aquela era a sua vingança por eu tê-Ia deixado sozinha e com um filho.
Mas então já era muito tarde. Não foi apenas por causa do caso Myers, você precisa acreditar! Eu a queria, querida, mas não podia confiar em você. Não havia jeito de você descobrir a verdade através de Ashley Myers, então eu resolvi lhe explicar tudo depois que os problemas estivessem resolvidos.
Ele fez uma pausa, e ela sentiu-se confusa.
— Imaginei que já casados poderíamos nos lembrar de toda essa história e dar boas risadas. Você havia se entregado com tanta doçura que não consegui acreditar quando mais tarde me recusaria. Não me casei com você apenas para ficar perto de Nicky, Demi. Eu poderia ter conseguido isso nos tribunais. Não! Quando a vi novamente, soube que queria você, não importava quanto tivesse de lutar. Só me casar com você não era o suficiente, eu precisava tentar transformá-Ia outra vez naquela mulher adorável que conheci...
— Pensei que você quisesse apenas se vingar.
— Eu sei... Agora. Quando Marian me disse que você nunca recebeu minhas cartas, pensei que você estava mentindo e então fiquei me perguntando por que você estava agindo assim.
— Ashley Myers deve ter sumido com a carta — comentou Demi. — Pensei que você tivesse me deixado, Joe, e fiquei muito magoada. Nós havíamos feito amor e foi a coisa mais bonita que aconteceu na minha vida. Fantasiei que você iria voltar o que não aconteceu, e então o escândalo explodiu e... Descobri que estava grávida... Fiquei tão magoada pensando que você jamais iria conhecê-Io, que nunca poderia ver aquela criança maravilhosa que nós tínhamos gerado...
— Quando me casei com você pensei que talvez voltasse a me amar...
— Eu nunca deixei de amá-Io — confessou Demi, acariciando os ombros de Joe. — Tentava me convencer de que tinha esquecido você, porém estava me enganando. Quando Marian me contou o que realmente havia acontecido, e eu soube que você me amava, só conseguia pensar nisso. Achei que, se lhe mostrasse os meus sentimentos,
conseguiríamos superar o passado. Só não pensei que você também poderia estar magoado...
— E por isso você se entregou abertamente... E eu a rejeitei. Você acha que vou ter outra chance como aquela? — perguntou ele, beijando-a.
Na escuridão, Demi olhou para ele.
— Você quer dizer...
— Eu quero dizer uma outra aparição vinda do mar, mas dessa vez, querida, prometo a você que será bem recebida.
Não agora, mas quando você achar que confia plenamente em mim. Quando tiver me perdoado e superado todas as lembranças amargas e... Aonde você vai? — perguntou ele, quando ela saiu da cama. .
Ela parou e sorriu misteriosamente.
— Tente adivinhar! — exclamou, provocando-o. — De repente senti uma vontade imensa de nadar.
Quando olhou para ele, percebeu que Joe realmente a amava, mesmo antes de ouvir as declarações apaixonadas.
— Eu a amarei para sempre — murmurou ele, enquanto pegava nas mãos dela para beijá-Ias com adoração.
— E eu o amo loucamente!
Ela não conseguia esperar mais para ir até a praia. Suas mãos tremiam nas dele, a luz que brilhava em seus olhos era de ternura e, com um pressentimento repentino, Demi soube que naquela noite conceberia uma segunda criança.
Sorriu. Um presente de Joe, seu marido adorado... Um presente da vida, um presente de amor.



            F I M

CAPÍTULO X



CAPÍTULO X

Ao chegarem à vila, o telefone tocava. Joe atendeu e pela conversa Demi deduziu que era Ashley. Isso foi confirmado quando ele desligou.
— Ashley pediu que eu vá buscá-Ia. Não vou demorar muito.
Demi deu de ombros, esperando que ele não notasse o ciúme que ela sentia.
— Não tenha pressa!
Ela foi para o quarto e pôde ouvir o carro se afastando.
Só então admitiu quanto esperava que Joe tivesse se recusado a ir. Se ele não fosse, os dois ficariam sozinhos naquele ambiente romântico... Permaneceu ainda algum tempo junto à janela, olhando para a escuridão da noite, e então Nicky murmurou alguma coisa enquanto dormia, o que fez com que ela se desse conta do motivo de estar naquele lugar, casada com Joe.
Já era tarde quando ela o ouviu chegar. Puxou as cobertas, tentando respirar como se realmente estivesse dormindo e afastando-se o mais que podia do lado da cama onde Joe se deitaria.
Ela escutara os passos dele e procurava adivinhar-lhe cada movimento. Pareceu uma eternidade até que Joe fechasse o chuveiro e voltasse para o quarto. Aí então ele ergueu as cobertas e se deitou. Demi tinha vontade de se voltar e ver o que Joe estava fazendo, mas se o fizesse ele saberia que ela ainda estava acordada. Sentia a garganta seca de tanta tensão e, quando ele se virou, roçando-lhe as costas, seu corpo ficou rijo numa tentativa de não tremer.
Se não fosse por Marian, de quem ele tanto gostava e não queria chocar ou magoar, será que nessa noite Joe estaria nos braços de Ashley?
Ele se mexeu novamente, e ela ficou gelada, arregalando os olhos quando Joe disse zombeteiro:
— Boa noite, Demi! Sonhe com os anjos, minha querida.
Durante todo o tempo ele sabia que estava acordada! Que prazer não teria sentido ao permitir que ela fingisse daquela maneira!
Ele me fez de boba, pensou com raiva, desejando vingar-se. No entanto, percebeu que Joe já dormia profundamente enquanto ela, com insônia, era atormentada pelos pensamentos do que poderia ter acontecido entre ele e Ashley.
Sem dúvida, se eles dividissem a mesma cama, estariam um nos braços do outro, concluiu enciumada.
Ela acordou de madrugada, envolvida por um delicioso calor, com um som forte junto ao ouvido. Quando se mexeu, percebeu que eram as batidas do coração de Joe. Em algum momento durante a noite, Demi devia ter se virado para o lado dele, aninhando-se àquele corpo quente que a abraçava, com uma das mãos sobre seus seios. Joe dormia profundamente e ela tentou se afastar, mas ele a apertou imediatamente. Com medo de que ele pudesse acordar e descobrir o que havia feito, Demi procurou relaxar, sem perceber que Joe sorria enquanto ela voltava a dormir.
Quando acordou novamente Nicky estava chamando por ela. Ainda sonolenta, pôde notar que o menino estava sentado na cama, junto dela, com um olhar de reprovação.
— Pensei que você não ia acordar! Meu pai vai me ensinar a nadar, e eu quero tomar o meu café, mamãe.
Demi escutou aquela exigência masculina, tentando dizer a Nicky que o café poderia ficar para mais tarde.
— A mamãe não quer acordar — disse Nicky, dirigindo-se ao pai, e, antes que ela pudesse protestar, as cobertas foram retiradas por uma mão masculina.
Joe estava de pé na frente dela, vestido com jeans e uma camisa fina de algodão desabotoada até a cintura. Ele riu quando viu a indignação de Demi.
— Vamos, preguiçosa, levante-se! Nicky e eu já estamos acordados há muito tempo, não é, filho?
Nicky concordou.
— O papai precisou me vestir — disse ele a Demi, com ar acusador.
Ela olhou para o relógio. Eram sete e meia da manhã!
— Pobre papai — disse ela friamente.
Joe inclinou-se sobre a cama com malícia e murmurou:
— O papai também vestirá a mamãe se ela pedir com jeitinho.
Demi pulou da cama, e olhou-o, furiosa, quando ele riu enquanto ela procurava pelas roupas que ia vestir.
— Não demore mamãe. Nós temos uma surpresa para você — disse Nicky logo que ela entrou no banheiro. Posso pular nessa cama? — Demi ainda ouviu o menino perguntar a Joe. Sentiu uma leve angústia ao pensar em Joe, dando banho e vestindo o filho, e ela dormindo sem saber de nada.
O quarto estava vazio quando ela voltou. Rapidamente ajeitou a cama, indo para o quarto de Nicky para arrumá-Io. Héloise havia dito para que não se preocupasse com isso, que ela estava na vila passando férias, mas a força do hábito a fazia executar essas pequenas tarefas domésticas automaticamente.
Demi mostrou-se satisfeita ao notar diante do espelho que sua pele já estava levemente bronzeada. Escovando os.
cabelos, reparou que seus olhos brilhavam suavemente...
Era óbvio demais que ela apresentava os sintomas inconfundíveis de uma mulher profundamente apaixonada. Precisava redobrar os cuidados para que Joe não descobrisse aquela verdade. .
Quando foi para o jardim, todos já esperavam por ela.
O rosto de Nicky exprimia excitação e impaciência.
— Posso falar agora? — perguntou ele ao pai.
Joe concordou e, quando Demi o olhou, curiosa Nicky gritou:
— Feliz aniversário, mamãe! Venha ver o que comprei para você!
De repente ela se deu conta de que, com o casamento e as férias, tinha esquecido completamente de seu aniversário.
Nicky estava muito excitado e só nesse momento Demi percebeu a pequena pilha de presentes ao lado de seu prato.
Sentiu um nó na garganta. Há muito tempo ninguém se lembrava do aniversário dela.
Joe levantou-se e caminhou em sua direção, enquanto ela tentava conter as lágrimas. Marian estava sorrindo compreensiva, e Demi não teve vontade de se afastar quando Joe segurou-lhe a mão, enlaçando seus dedos carinhosamente.
Quando o olhou, Demi sabia que era ele o responsável por aquela surpresa e recordou-se dos longos dias quentes de verão que partilharam anos atrás, quando Joe lhe oferecera lindas rosas e um delicado frasco de perfume, brindando o aniversário dela com champanhe francês...
Fazia tanto tempo! Mesmo assim sentia-se emocionada por ele ter lembrado.
— Abra o meu primeiro — pediu Nicky. — É aquele! Ele apontou um pequeno pacote embrulhado com um bonito papel cor-de-rosa e laços prateados.
Era uma echarpe azul degradê, muito bonita e sofisticada, e Demi adorou-a.
— Eu e papai escolhemos — disse Nicky, todo importante.
— Você gostou?
— Adorei meu amor! — Demi deu-lhe um beijo.
Havia cartões de felicitação de Héloise e François e um perfume delicioso como presente de Marian, além de uma fotografia de Nicky emoldurada por um lindo porta-retratos prateado.
— Oh, você não deveria ter feito isso — protestou ela impulsivamente, beijando Marian com doçura. — Muito obrigada.
— Por falar nisso, onde está Ashley? — perguntou, determinada a não deixar que notassem seu embaraço por saber que não haveria nenhum presente de Joe.
— Ashley ainda não levantou — disse Marian, interrompendo aqueles pensamentos tristes. — E você, Joe, não comprou nada para Demi?
Ela desejava que essa pergunta jamais tivesse sido feita.
Mas Marian imaginava que o casamento deles fosse perfeitamente normal e esperava atenção e gentileza de Joe para com a esposa.
— Comprei, sim — respondeu ele, deixando Demi surpresa. Ele parecia se divertir ao ver o rosto vermelho dela. — Porém, para evitar que ela fique constrangida, achei melhor entregar o presente quando estivermos sozinhos. Na verdade — ele se levantou —, eu ia lhe pedir para fazer companhia a Nicky enquanto nós vamos até o quarto.
Marian riu e disse-lhe que ele estava deixando Demi corada.
— Eu sei — foi à resposta dele. — E gosto muito disso!
Não havia jeito de Demi recusar aquele convite e, com um sorriso forçado, agradeceu a Marian por cuidar de Nicky.
Levantou-se e seguiu Joe.
Quando ele abriu as janelas da sala de estar do quarto, ela hesitou, e Joe a encarou.
— Assustada? Fique tranquila! Espero com meu presente despertar aquela mulher maravilhosa há tanto tempo adormecida. Aqui está. Tomara que goste!
Ele lhe entregou um grande pacote embrulhado com papel de seda vermelho e amarrado com fitas brancas.
Demi apanhou o pacote, confusa, passando os dedos pelo papel pensativamente.
— Abra — pediu Joe com suavidade. — Marian não descansará até que saiba o que é. Você realmente consegue ser uma mulher intrigante — acrescentou ele quando viu que ela permanecia imóvel com o pacote nas mãos. — Qualquer outra mulher estaria morrendo de curiosidade.
Percebendo que não poderia sair do quarto até que abrisse o pacote, Demi hesitou ainda um pouco antes de desmanchá-Io. Surpreendeu-se ao ler o nome da loja, mas isso não foi nada em comparação à expressão que fez ao abrir a caixa e ver, espantada, seu conteúdo. Seus dedos passearam sobre um delicado sutiã em cetim cor de damasco debruado com renda branca, uma calcinha da mesma cor, tão sumária que ela achou-a indecente, uma cinta-liga rendada, também minúscula, e um par de meias de náilon com risca. Havia ainda uma camisola de seda finíssima e um négligé combinando, mas Demi mal conseguia tocá-Ios. Seu rosto passou de pálido para um vermelho intenso quando viu todas aquelas peças de seda pura.
— Como você ousou me comprar um negócio desses? Perguntou finalmente, com a voz embargada de tanta fúria.
— Como se atreveu?
— Eu queria que se lembrasse de que era feminina — disse Joe, que estava de pé olhando para ela, com as mãos nos bolsos da calça, aparentemente descontraído. Mas Demi percebeu que ele demonstrava certa ansiedade, o que a deixou angustiada. — Ou foi apenas para lembrar a mim mesmo — continuou o rosto alterado pela raiva, quando ela subitamente jogou a caixa no chão. — Não havia nenhum outro motivo especial.
Demi não sabia exatamente por que tinha ficado tão furiosa com o presente. Talvez pelo fato de nunca mais ter pensado em si mesma desde o nascimento de Nicky... Ultimamente suas roupas íntimas eram muito simples e baratas. Não pôde mais se dar ao luxo de escolher lingeries atraentes e nem mesmo se sentia motivada. Ao ver aquelas delicadas peças de seda, lembrou que um dia havia desejado vestir-se apenas para agradar aquele homem... '
— Saia daqui — disse ela, calma. — Não existe nenhuma mulher adormecida, Joe, você a destruiu completamente. Virou de costas e, quando se voltou, ele já havia saído. Como uma sonâmbula, pegou as peças de seda, dobrou-as e guardou-as novamente na caixa. Seria o presente ideal para Ashley, não para ela! Abriu uma gaveta e escondeu a caixa cuidadosamente antes de retomar ao jardim.
— Tudo bem, Demi? — perguntou Marian, preocupada. — Você me parece um pouco pálida.
— Estou bem. Onde está Nicky? — Ela olhou em volta à procura do filho.
— Oh, Ashley queria ir até Nice, por isso Joe a levou e Nicky foi junto com eles. — Marian estava aborrecida. — Sinto muito por Ashley ser tão inconveniente, querida. A mãe dela é uma velha amiga minha, mas a filha nunca me agradou muito. .
— Ela me parece fanática por homens — comentou Demi secamente, adivinhando o que estava preocupando sua anfitriã. — Estou certa em pensar que ela e Ken já tiveram um relacionamento mais íntimo?
Marian deu um leve sorriso.
— Como você é sensata, minha querida, achei que fosse se incomodar somente com as investidas de Ashley. Posso lhe afirmar que Joe nunca sentiu nada além de um interesse passageiro por ela. Foi durante um verão em que ele esteve muito doente, e, naquela época, eu mesma a encorajei. Queria vê-Io curado e tentaria qualquer saída para que se reanimasse. Foi uma fase terrível. E receio de que eu tenha ficado muito magoada com você, Demi. De fato, hoje posso ver que você é bem diferente da mulher que eu imaginava.
— Magoada comigo? — perguntou Demi, assustada. — Acho que não estou entendendo.
Marian pareceu um pouco confusa.
— Oh, minha querida, não quero tocar em feridas antigas, mas, quando Joe chegou da África doente daquele jeito, eu tinha certeza de que você era a única culpada. Você sabe, ele já havia me contado sobre a primeira carta, mas eu o persuadi a escrever novamente. Achava que você acabaria cedendo. Ele me colocara a par de tudo. No entanto, quando a carta dele voltou sem resposta... Bem, cheguei mesmo a odiá-Ia. — Calou-se ao ver o rosto pálido de Demi. — Oh, querida, sinto muito! Não deveria ter tocado nesse assunto.
Joe me avisou para não...
— Estou contente por você ter me contado — disse Demi, com voz trêmula — porque, acredite, eu nunca escrevi para Joe em toda a minha vida. Não depois de ele ter me abandonado, deixando-me sozinha para enfrentar a imprensa. Nem mesmo quando eu soube que esperava um filho e todo mundo parecia estar contra mim. Jurei nunca fazê-Io. Ele havia deixado bem claro que não queria mais nada comigo...
— Nada com você, Demi? Minha filha, você está redondamente enganada — interrompeu Marian, zangada. -Como, se depois que voltou doente da África ele só pensava e falava em você? Pensei que nunca mais pudesse se recuperar e escrever para você foi minha última esperança. Imaginei que vendo você e ouvindo sua voz teria vontade de
Viver... Era como se quisesse morrer, mas o corpo dele reagiu, mesmo contra a própria vontade.
— Por favor... Do que você está falando? Joe me deixou depois de vasculhar o apartamento em busca de provas que ele precisava para o caso Myers, e eu nunca mais o vi. Acordei naquela manhã... — Ela interrompeu-se, levemente corada — esperando encontrar-me nos braços dele e em vez disso estava completamente sozinha. Mas no final daquele dia a história de Joe já estava estampada em todos os jornais e eu estava sendo interrogada incessantemente pela polícia que queria saber qual era meu envolvimento no caso.
Marian suspirou.
— Oh, minha querida, sinto muito! Compreendo agora por que você se sentiu tão magoada.
— Esperei que ele entrasse em contato comigo — continuou Demi como se Marian não tivesse falado. — Durante todo o tempo que o caso ficou nos tribunais eu ainda tinha esperança de vê-Io, porem não aconteceu nada... Absolutamente nada!
— Minha pobre criança! — Marian olhou-a com compaixão. — Como ele poderia entrar em contato com você? Depois que a notícia explodiu, Joe foi enviado pelo jornal para ser correspondente de guerra em Angola, substituindo um jornalista que havia sido ferido e passava muito mal. Ele lhe pediu tempo... Tempo para explicar a você por que não tinha sido capaz de lhe contar sobre o caso Myers, mas eles foram inflexíveis. Poucos aviões recebiam permissão de entrar e sair de Angola e ele foi obrigado a partir naquela mesma manhã.
— Ele poderia ter feito alguma coisa antes de partir. Escrito algum bilhete...
O olhar de Marian era confuso.
— Mas ele escreveu um bilhete! Ele mesmo me contou, embora com relutância. Joe não é o tipo de homem que faz confidências com os outros, mesmo que sejam amigos íntimos. Ele escreveu pedindo que você confiasse nele e o esperasse, dizendo que explicaria tudo logo que voltasse.
— Eu não recebi nada — disse Demi vagarosamente, tentando se recordar da exata sequencia dos acontecimentos daquela terrível manhã. Havia chegado correspondência naquele dia? Sim, havia algumas cartas para Ashley, e ela as deixara na cozinha. Entretanto, ao voltar, Demi notou que não estavam mais lá. Um dos vizinhos a procurou e informou-lhe que Ashley tinha saído na companhia de alguns policiais. Ashley! O sangue subiu-lhe ao rosto. Será que a carta de Joe chegara durante a manhã e Ashley a lera?
Será que por amargura e ressentimento ela a havia destruído ou guardado como um meio de vingar-se mais tarde de Demi, que inocentemente tinha sido causadora da ruína do irmão dela?
— Em que você está pensando? — perguntou Marian astutamente.
— Uma colega que morava comigo, cujo irmão foi condenado. Ela voltou ao apartamento naquele dia.
— E ela pode ter pego a carta? Claro! Joe disse que deixou instruções para que fosse entregue em suas mãos.
— Mas isso não explica por que ele não tentou entrar em contato comigo depois. Com certeza...
— Ele não podia — disse Marian gentilmente. — Quando estava em Angola, Joe foi preso e permaneceu na prisão por seis meses. Finalmente, conseguiu fugir e alcançar a fronteira, onde foi encontrado delirando. Demorou mais seis semanas até que tivesse alta do hospital. Ele estava macérrimo e havia contraído uma febre violenta. Por um longo período parecia ter perdido a memória, e só quando chegou aqui para se recuperar é que fiquei sabendo do relacionamento de vocês. Ele me contou todos os detalhes, mas fique tranquila.
Demi a olhou espantada, e Marian acrescentou:
— Bem, eu disse que Joe havia contraído uma febre terrível e por isso delirava muito. Não era preciso ser inteligente para descobrir que a "Devonne" por quem ele chamava continuamente tinha grande importância na vida dele. Quando se recuperou, eu lhe falei sobre o assunto, e Joe então me contou tudo. Estava muito amargurado com os acontecimentos. Havia pedido ao editor do jornal que esperasse até que tivesse tempo de contar a você para publicar a história, mas eles sabiam que, se não o fizessem imediatamente, outra pessoa o faria. Por algum tempo pensei que Joe fosse morrer. Ele não se esforçava para se recuperar e eu, desesperada, o convenci a me dar seu nome e endereço e lhe escrevi pedindo que entrasse em contato conosco. Quando a carta voltou sem ser aberta, Joe ficou muito transtornado, tornou-se duro e calado... E então Ashley veio passar uns tempos conosco. Ela o fez rir novamente, e eu sabia que ele iria viver.
Uma mistura de emoções deixou Demi quieta. Então ela disse em voz baixa:
— Eu mudei de lá. Precisei também mudar de nome, por causa da publicidade. Ao deixar o apartamento comprei uma casa, para viver com Nicky... — As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Subitamente ela estava chorando como não fazia há anos, e Marian a confortava como a uma criança.
— Acho que você precisa de uma xícara de chá — disse ela firmemente quando Demi conseguiu se acalmar.
Demi respondeu com um leve sorriso. .
— Um remédio para todos os males do mundo! — Demi ficou imaginando se Marian não achava estranho que o próprio Joe não a tivesse informado sobre tudo isso, e então compreendeu, pelo olhar sagaz dela, que Marian não tinha sido inteiramente iludida pelos dois a respeito daquele casamento.
— Você o ama, não ama?
Demi tentou sorrir. — O que você diria se eu dissesse que não?
— Iria chamá-Ia de mentirosa — respondeu Marian, com sinceridade. Depois sorriu. — Como hoje é seu aniversário, Héloise está preparando um jantar especial para esta noite. Dar conselhos sempre foi muito fácil, Demi, mas segui-Ios é difícil. Apesar de todos os esforços que vocês estão fazendo para esconder os problemas, posso notar que as coisas não vão indo muito bem... Ele é um homem muito orgulhoso e acho improvável que dê o braço a torcer mais uma vez. Procure mostrar-lhe seus sentimentos... e não se arrependerá! Você ainda tem o elo mais importante que poderia ter... Nicky — disse suavemente enquanto Demi parecia confusa. — Mesmo pensando que ele a tinha abandonado você deu à luz a seu filho e ainda o ama. Permita que isso seja a ponte de ligação entre vocês dois.

As revelações de Marian deixaram Demi pensativa pelo resto do dia. Quando Ashley e Joe voltaram de Nice, ela ficou observando Joe ensinar Nicky a nadar, percebendo que Ashley estava ressentida com a atenção que Joe dispensava ao filho.
— Vamos sair para jantar esta noite? — sugeriu Ashley, quando saiu da água com um minúsculo biquíni branco, colocando-se estrategicamente onde Joe não pudesse deixar de notar aquelas curvas sedutoras.
— Hoje é o aniversário de Demi, e Héloise está preparando algo especial para comemorarmos — disse Marian, com firmeza. — Mas se você quiser sair, Ashley, sinta-se à vontade, está bem?
Por um momento Demi percebeu que Louise ficou indignada. Então, parecendo indiferente, ela disse com desdém:
— Então é seu aniversário! Joe lhe deu algum presente?
A suspeita de que Ashley havia comprado aquelas roupas íntimas desapareceu e foi substituída por um tom de malícia na voz de Demi.
— Sim. E acho que vou usá-Io hoje à noite.
Ashley ficou confusa, e Joe fingiu não ter ouvido. Entretanto, as revelações de Marian encorajaram Demi a agir como nunca havia feito antes! Estava desinibida e pronta para reconquistar o amor dele, voltando a ser aquela mulher ardente e sincera que um dia Joe tinha amado com paixão.
— Veja, mamãe, estou nadando! — exclamou Nicky, batendo as mãos na água com euforia, enquanto Joe o segurava.
— Ótimo, querido! — Demi sorriu com admiração, enquanto pensava em todas as roupas que havia trazido para as férias. Não podia usar outra vez o vestido preto e não tinha nada adequado para um jantar de comemoração. — Será que François poderia me levar até Nice? — perguntou a Marian. — Ultimamente meus aniversários não têm sido comemorados e não tenho nada especial para vestir hoje.
Marian deu uma gargalhada.
— Que mudança para uma garota que ontem mesmo disse que não precisava de nada! — brincou ela. — É claro que ele pode levá-Ia, querida. Você se importa se eu for junto?

Desta vez Demi estudou cuidadosamente cada loja. Sabia exatamente o que queria, e Marian olhava para ela surpresa enquanto Demi examinava e deixava de lado vários vestidos.
— O que você esta procurando? — perguntou ela com curiosidade.
Demi sorriu.
— Algo que possa ser usado sobre roupas íntimas de seda e renda.
Por um instante Marian arregalou os olhos, mas logo riu, surpresa.
— Ah, agora estou entendendo... O misterioso presente de aniversário! Eu conheço um lugar cuja especialidade é roupa de seda. Você quer ir até lá?

Meia hora depois elas voltavam para o carro, ambas satisfeitas com as compras. A boutique tinha exatamente o que Demi desejava. Um conjunto de duas peças, com a saia de seda num tom adamascado e uma blusa da mesma cor também de seda, toda bordada, sem mangas e com um recorte embaixo do busto, debruado com um provocante e fino babado, abotoada na frente com pequenas pérolas. Ela comprou ainda um par de sandálias altas.
— O preço está razoável para esse tipo de calçado falou Demi enquanto pagava.
Marion olhou surpresa para ela e falou:
— Agora estou começando a compreender o que Joe quer dizer quando se refere a outra mulher que existe dentro de você. Ela deve estar ressurgindo com toda a força, querida.

Demi esperou intencionalmente até que Joe terminasse de se aprontar para começar a se vestir. Marian tinha lembrado que tais comemorações precisam de algo muito especial para beber e pediu a Joe que saísse para comprar.
— Champanhe, claro! — Demi ouviu Marian dizer enquanto Joe a seguia, saindo da sala de estar da suíte. Héloise preparou um pato com laranja delicioso!
Quando ele desapareceu, Demi tomou uma ducha demorada, ensaboando-se com os sais de banho que costumava usar.
Quando saiu da água, enxugou-se e aplicou delicadamente um creme perfumado sobre o corpo todo. Suas mãos hesitaram ao tocar as peças de seda. Nunca em toda a vida tinha tentado deliberadamente seduzir um homem como estava fazendo naquela noite, e por isso mesmo não podia nem pensar em falhar. Quando se olhou ao espelho, com a saia e as sandálias, percebeu que seu bronzeado já estava acentuado. Ia colocando a blusa quando a porta se abriu e Joe entrou, ficando paralisado ao vê-Ia. Parecia sinceramente satisfeito em observá-Ia e então, com um sorriso compreensivo, disse brincando:
— Muito bem, afinal eu estava certo. — Correu os dedos pela blusa de Demi, e ela estremeceu. — Gostaria de saber o motivo dessa mudança tão repentina! — Antes que Demi pudesse responder, ele se afastou, deixando-a desapontada.
— Enquanto você termina de se vestir eu vou descer e ver Nicky. A menos, é claro, que você precise de ajuda.
Olhou-a com desejo, e Demi desejou ardentemente ter a coragem de dizer: "Sim, por favor..." No entanto, não conseguiu reagir, ficando totalmente emudecida e, embora a olhasse com carinho, Joe saiu do quarto, deixando-a sem outra alternativa a não ser colocar ela mesma a blusa e abotoá-Ia com os dedos trêmulos. .
Quanto à maquilagem, Demi passou apenas um pouco de rímel e batom. O leve roçar da seda em sua pele fez aumentar ainda mais o desejo de que Joe a tocasse e a possuísse demoradamente.
Ashley olhou, carrancuda, quando ela apareceu na sala de jantar. Demi mediu-a dos pés à cabeça, observando o modelo do vestido e detendo-se no decote: estava usando um vestido preto e justo, mas a cor escura deixava a pele dela muito pálida e, honestamente, Demi achou que, entre as duas, naquela noite ela, sem dúvida, estava mais atraente.
Eles iniciaram o jantar com um refrescante coquetel de frutas, seguido de um suculento pato assado com molho de laranja e alguns legumes cozidos, servido de uma maneira como só os franceses sabem fazer.
Demi tomou o vinho branco, corando a cada vez que percebia Joe olhando-a.
Depois comeram crepes suzetes com morangos frescos e, apesar de ela recusar, Joe insistiu em servi-lhe champanhe.
Quando terminaram, Demi sentia-se um pouco tonta.
Marian sugeriu que fossem para a sala de estar, onde começou a conversar com Ashley, sobre a mãe dela.
Demi molhou os lábios, desejando que Joe viesse sentar-se a seu lado. Ele vestia uma roupa social que o deixava um pouco mais magro.
— Acho que vou me deitar — disse Demi, esperando que ninguém percebesse que estava hesitante. Eram apenas dez horas, mas com certeza Joe também iria... Olhou para ele, desejando que se virasse e dissesse que iria acompanhá-Ia, mas Joe permaneceu calado, e Demi percebeu que Marian a fitou com simpatia quando ele se virou para sair da sala.
No quarto ela se sentou na beira da cama, tentando prestar atenção a cada som, mas quase meia hora se passara e nem sinal de Joe!
As esperanças começaram a desaparecer e a excitação começou a transformar-se em tristeza. Será que não tinha deixado às intenções bem claras ou será que ele não estava mais interessado... .
Demi esperou mais quinze minutos e então saiu da casa, seguindo o caminho que levava à praia. O barulho das ondas contra as pedras era reconfortante. A noite estava quente e havia uma suave brisa. Dominada por uma necessidade incompreensível, Demi tirou vagarosamente a saia e a blusa de seda, colocando-as com cuidado fora do alcance da água. Quando a brisa começou a bater em sua pele ela hesitou, mas depois acabou se despindo completamente e entrou no mar.
Nunca tinha nadado à noite e muito menos despida, e agora se sentia um pouco chocada com aquele impulso. Mas experimentar a sensação da água do mar batendo em seu corpo nu era deliciosamente erótico. Ela se jogou contra as ondas, segura por saber que a praia era particular.
Quando viu uma sombra vinda pela praia, quase morreu de susto. Ela boiava imóvel, enquanto o vulto se dirigiu à pequena pilha de roupas, então, vagarosamente, retirou as suas, entrando no mar com passos largos até que conseguisse nadar tentando alcançá-Ia.
— Joe... — murmurou num suspiro e calou-se, pois a intensa excitação alertou-a de que era melhor ficar quieta.
Nadou languidamente, afastando-se, quando ele quase chegou perto. Estava certa de que Joe a seguiria e então, quando a alcançasse, ele a abraçaria, mergulhando-a sob aquela água, para beijá-Ia até que a falta de ar os fizesse vir à tona.
— O que está acontecendo com você esta noite? — perguntou ele, quase sussurrando.
— Estou querendo apenas ser uma mulher, Joe — falou docemente, tentando escapar dos braços dele e mergulhando, provocante.
Ele nadou com maior rapidez, alcançando-a e abraçando-a suavemente quando ela se virou em direção à praia.
Ao saírem da água, parecia natural que Joe a carregasse nos braços, sem dizer nada, até um pequeno trecho de areia que o mar havia limpado com suas ondas. Ele a deitou no chão, cobrindo-a com o próprio corpo.
Em completo silêncio Demi levou as mãos ao rosto dele, acariciando-o suavemente antes de beijá-Io com paixão, ao mesmo tempo em que Joe começava a explorar o corpo dela com movimentos suaves e sensuais.
Ela o beijava com paixão enquanto suspirava a cada toque leve e atormentador de Joe. Suas mãos começaram a acariciar febrilmente o corpo dele, enquanto seus lábios beijavam aquela pele com ardor.
Joe suspirou profundamente logo que ela o abraçou, moldando o corpo ao dele, incitando-o a possuí-Ia num redemoinho de prazer interminável.
Não havia mais lugar para vergonha ou timidez quando Demi passou possessivamente os braços pelo pescoço de Joe, prendendo os lábios aos dele e sendo novamente atormentada com aquelas carícias másculas e sensuais.
A demora de Joe em possuí-Ia era insuportável, e Demi  contorcia-se febrilmente sob ele, implorando o que ele se negava a fazer, com os braços tentando trazê-Io de novo para junto de si.
Ele segurou as mãos dela, afastou ainda mais o próprio corpo e, olhando para o rosto de Demi, disse com a respiração ofegante:
— Agora me diga que você não é uma mulher, Demi, e que não sabe o que é sentir e querer possuir alguém quando se está morrendo de desejo.
O pânico tomou conta dela, Joe não a olhava mais com paixão, mas com um olhar tão frio que a deixou amedrontada.
— Vou lhe ensinar mais alguma coisa... — Joe continuou — e tenho certeza de que você será uma excelente aluna, porque vou lhe mostrar o que é se sentir rejeitado como você vem fazendo comigo o tempo todo. E para lhe explicar isso não preciso fazer absolutamente nada, preciso, Demi? — ele perguntou, com maldade. — A única coisa que devo fazer é sair daqui nesse momento. Nada de sexo sem amor, você me disse uma vez, e é exatamente o que penso. Foi bom enquanto durou, mas agora acabou.
Sem dizer mais nada, ele se virou e a deixou deitada na areia. Enquanto seu corpo doía de frustração, Demi sentia-se humilhada e destruída, insegura diante daquela recusa. Porém, sabia que se Joe voltasse e resolvesse possuí-Ia, mesmo assim não teria forças para resistir.
Depois de algum tempo conseguiu voltar para o quarto.
Não havia sinal de Joe, embora ela nem esperava que ele estivesse lá. Tentou esquecer o desejo que seu corpo sentia.
Havia ficado tão atormentada com os próprios sonhos, quando Marian lhe contou tudo, que nem pensou no que a rejeição tinha representado para Joe e os sentimentos dele.
Era natural que ele quisesse se vingar. Ela também não havia sentido a mesma ânsia de vingança? Agora estava magoada, pois Joe a vencera, como tinha prometido. Experimentou o sofrimento decorrente daquela rejeição e nem por isso ficou com ódio dele. Pelo contrário, eles estavam vivendo o tempo todo num grande equívoco.
Deveria ter conversado com ele primeiro, pensou com tristeza. Deveria ter explicado que nunca recebera aquelas cartas e que nunca soubera o que lhe havia acontecido.
Será que isso teria adiantado? Será que a amargura dele já não era profunda demais? Se Joe ainda tivesse um mínimo de sentimento por ela, certamente esta noite teria deixado todas as barreiras de lado...
Demi começou a se sentir cansada. Depois do que acontecera, estava fraca demais para pensar em qualquer solução viável para sua situação. Poderia encarar Joe novamente sabendo como havia se exposto a ele? "Nada de sexo sem amor", ele afirmou, e agora Joe sabia que ela o desejava, pois tinha se traído abertamente, encorajando-o a possuí-Ia.
As lágrimas começaram a correr pelo seu rosto enquanto Demi se virava de um lado para o outro na enorme cama vazia. Ela precisava ser perdoada...