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sábado, 26 de maio de 2012

CAPÍTULO VIII




— Vamos parar para comer alguma coisa.

Demi concordou com a cabeça.

Eles estavam viajando de carro através de uma autoestrada do norte da França, margeada de tantas árvores que o caminho parecia interminável. Nicky havia adormecido no banco de trás, e o silêncio pesava sobre eles.

Ela não queria ter vindo para essas férias. Achava tudo aquilo muito arriscado... Desde que admitira que ainda amava Joe, fazia um esforço sobre-humano para manter-se fria e indiferente. Sentia-se cansada de representar e temia que ele pudesse perceber que o desejo e as necessidades de seu corpo a cada dia tornavam-se mais intensos e evidentes.

Eles estavam viajando desde manhãzinha, por isso ela se sentiu bastante aliviada ao poder esticar as pernas quando pararam para almoçar numa cidadezinha francesa. Embora não quisesse admitir, era uma tranquilidade saber que Joe se encarregara de tudo. Ele providenciou rapidamente um lugar onde pudessem comer e explicou ao garçom, num bom francês que desejava uma refeição leve para Nicky.

Foram conduzidos a um pátio sombreado por glicínias que espalhavam seus galhos floridos pela parede branca do restaurante e, apenas a alguns metros dali, um riacho de águas límpidas corria calmamente em direção ao mar. À paisagem era belíssima.

Demi se sentia cansada até mesmo para olhar o cardápio e simplesmente pediu a Joe que escolhesse por ela.

Ele franziu a testa e por um momento pôde perceber certo ar de preocupação em seu rosto.

Naturalmente Joe deve estar imaginando como vai cuidar de Nicky se por acaso eu ficar doente, pensou com sarcasmo.

Enquanto tomava a sopa fria que o garçom trouxera, Demi imaginava como seria a madrinha dele. Joe havia falado pouco a respeito dela, a não ser que todos os anos procurava passar alguns dias em sua companhia. Sabia ainda que era viúva e morava no sul da França. Demi pensou logo numa senhora idosa, de porte nobre, bem penteada e maquilada e muito elegante, seguindo a moda francesa.

Tudo isso há deixava um pouco apreensiva e com receio de conhecê-Ia.

— Termine sua sopa — ordenou Joe, trazendo-a de volta à realidade.

Ela o olhou surpresa, só então percebendo que havia afastado o prato sem tocá-Io.

— Você está muito magra. Heloise terá um ataque quando avir.

— Heloise?

— É a cozinheira, criada, confidente e amiga da minha madrinha. Elas vivem juntas desde que tia Marian se casou.

— Espero não incomodá-Ias muito. — Ela ficou preocupada quando pensou no barulho e na intromissão de Nicky dentro do mundo organizado e calmo de duas senhoras de idade.

— Não se preocupe, elas irão gostar da nossa visita, a menos que Heloise me acuse de matar você de fome. — disse ele secamente. — E se você conseguir disfarçar esse ar de vítima será um favor!

Demi terminou a refeição em silêncio. Parecia que Joe sentia prazer em fazê-Ia passar por uma criança mimada e exibicionista que procurava chamar a atenção para conquistar a simpatia dos adultos.

No pátio sombreado, o sol já estava ficando bastante quente e instintivamente ela olhou para a cabeça desprotegida do filho, pensativa. O menino tinha sorte em ter o mesmo tipo de pele resistente do pai, por isso raramente o sol lhe fazia mal. Entretanto, ela havia tomado a precaução de providenciar um boné e algumas camisetas frescas para o  caso de Nicky se expor em excesso àquele sol. A pele dela, ao contrário, era bastante sensível, mas Demi procurava sempre ter cuidado para não se exceder e queimar demais.

Como se tivesse lido os pensamentos dela, Joe disse repentinamente:

— Venha sentar aqui na sombra. Você está muito branca, e eu não quero que pegue uma insolação.

— Eu não sou nenhuma criança! — protestou ela, mas ele fez uma cara de quem não acreditava e olhou para o prato que Demi mal havia tocado.

— Não? Você deliberadamente quase pegou uma estafa, recusa-se a comer o mínimo necessário, e então se senta ao calor do sol do meio-dia. Não, não é criança realmente! Ele falava com ironia e severidade.

— Eu não ficarei doente. Não posso! Quem cuidaria de Nicky?

— Termine seu almoço. — Ele parecia muito aborrecido e Demi imaginou que ele estivesse pensando em como seria difícil cuidar de uma criança.



Viajaram ainda durante toda à tarde, parando apenas em Avignon, onde passariam a noite.

Demi estava tão cansada que nem conseguiu apreciar direito a cidade.

Por que será, pensou ela, que ficar sentada o dia inteiro sem fazer nada é cansativo desse jeito? Observou Joe tirando Nicky do carro. Embora ele tivesse dirigido o tempo todo, não parecia abatido. A camisa fina estava colada aos músculos fortes das costas; as mangas curtas revelavam os braços bronzeados e as pernas compridas e sensuais eram realçadas pela calça justa.

Ela também usava calça e camisa, só que sua roupa, em vez de mostrar um corpo incontestavelmente másculo, revelava curvas muito femininas que atraíam a atenção de vários homens enquanto eles atravessavam a rua e entravam no hotel.

Diante da insistência de Demi, Joe havia reservado dois quartos.

— Do que você tem medo? — ele havia perguntado, e ela não ousou confessar que temia a si própria.

Se eles dividissem uma única cama, mesmo que platonicamente, Demi estava certa de que durante a noite acabaria inconscientemente aproximando-se dele sem poder responsabilizá-lo pelas consequências.. .

Cada quarto tinha uma cama de casal e um banheiro, e ela levou Nicky para um deles, deixando Joe ficar com o outro. Já havia tirado a roupa de Nicky quando percebeu que a mala dela estava no quarto de Joe. Bateu na porta e, como não obteve resposta, deduziu que ele deveria ter saído por algum motivo e então entrou. .

Ela estava se abaixando para pegar a mala do lado da cama quando a porta do banheiro foi aberta, e Joe surgiu. Seus cabelos estavam molhados e despenteados, e gotas de água escorriam pela pele saudável. Demi ficou vermelha ao ver aquele corpo nu, mas, inconscientemente, demorou em desviar o olhar. Sentiu-se fraca e trêmula, com a boca seca por causa da tensão que a envolveu.

— Pronto você já pode me olhar sem chocar essa sua mentezinha frígida — disse ele, vestindo um roupão curto de toalha, o que não a impediu de visualizar e pensar no que havia por baixo dele.

Demi sentia enorme necessidade de tocar aquela pele dourada, de experimentar o poder daquela masculinidade...

Ela suspirou nervosa, e apontou a mala.

— Eu vim por causa da...

— E para o que mais? — zombou ele. — Quero deixar uma coisa bem clara, Demi. Quando estivermos na casa da minha madrinha, dividiremos um único quarto. Ela pensa que nosso casamento é normal e feliz e isto inclui também sexo, naturalmente!

Ela o encarou horrorizada.

— Mas nós não podemos!

— Por que não? Eu nunca disse que esse casamento seria apenas no papel. Fique tranquila, isso não a matará.

Ela pensou no que sentia por ele e concluiu que seria impossível dormir na mesma cama mostrando-se indiferente. Joe a alcançou e começou a acariciar-lhe o pescoço. Aquele corpo úmido e quente pressionava o dela com volúpia.

— Nós estamos casados — disse ele suavemente —, e não pretendo passar o resto da minha vida como um monge. Pense em Nicky. Certamente você não quer privá-lo do prazer de ter alguns irmãozinhos, quer?

Demi hesitou, atormentada pela sedução que ele exercia. Seria tão fácil ceder, sentir na própria pele o calor da pele dele, entregar-se à forte exigência física que a dominava.

Perdida em meio à indecisão, ela permitiu que Joe lhe inclinasse a cabeça e lhe acariciasse o pescoço com os lábios úmidos. Fechou os olhos, deixando-se envolver por uma fantástica rede de prazer.

— O que você está fazendo com minha mãe?

Ela abriu os olhos e, em outras circunstâncias, teria rido da raiva de Nicky quando ele se voltou para Joe.

— Você me deixou sozinho! — acusou ele. — Faz tempo que você saiu.

— Pela última vez você é salva pelo gongo — murmurou Joe ao ouvido dela. — Vamos, eu carregarei você de volta ao quarto — ele se dirigiu ao filho, inclinando-se para pega-lo. — Nós não terminamos e da próxima vez farei o que disse — preveniu ele.

            Quanto mais para o sul eles viajavam, mais árida se tomava a paisagem. Demi estava ciente de uma tensão nervosa que não era inteiramente relacionada com o encontro próximo com a madrinha de Joe. Ele não havia feito mais nenhum comentário sobre a noite anterior, mas ela sabia que a decisão dele era definitiva e, pior ainda, sentia que o próprio corpo desejava que Joe se impusesse fisicamente e a possuísse com paixão, desobrigando-a do risco de ela mesma tomar a iniciativa. Ele já havia percebido a fragilidade da resistência dela e estava apenas ganhando tempo e esperando o momento oportuno para cumprir as ameaças...

Eles atravessaram a Côte d'Azur, que ostentava seus ciprestes, carvalhos, antigas oliveiras e os característicos pinheiros. O calmo silêncio dominava a região e por toda a parte podiam se ver suntuosas mansões protegidas por portões de ferro batido.

Em Nice, o brilho e o esplendor da Côte d'Azur explodiram surpreendentemente diante dos olhos despreparados de Demi, ao deparar com uma riqueza inacreditável, desde a cor dos carros luxuosos que enchiam a cidade até as joias exibidas por corpos bronzeados e sedutores.

— Em Nice, a maioria de todo esse brilho é do ouro maciço de vinte e dois quilates — Joe comentou.

Eles pegaram uma estrada que dava a volta por trás dos rochedos de calcário, uma região que precedia os Alpes.

Toda vez que faziam uma curva, Demi fechava as olhos, só para depois reabri-Ias e deliciar-se com a vista magnífica do azul do Mediterrâneo que se espalhava abaixo deles.

Aproximadamente vinte minutas após terem deixado Nice, já haviam chegado a St. Jean com sua tranquilidade inabalável e o porto pitoresco.

Nicky nunca tinha se aproximado do mar, só do lago. Do parque Regente, e, embora a travessia do canal não o tivesse impressionado muito, a visão daquele porto repleto de iates deixou-o boquiaberto.

— Sua madrinha deve ser muito rica — comentou demi, incapaz de conter a curiosidade. Eles estavam passando por luxuosas propriedades, na região mais bonita que ela já tinha visto, e a cada minuto ficava mais apavorada por ter de conhecer a madrinha de Joe.

— Relativamente. O marido dela era um próspero. Homem de negócios. Morreu juntamente com meus pais num acidente de barco... Marian não havia ido com eles para cuidar de mim. Na época eu tinha doze anos e nunca esqueci a expressão do rosto dela quando me deu a notícia. Eu até cheguei a culpá-Ia pelo acidente, pois o convite partira dela. Precisou ter muita paciência comigo. No final, Heloise me fez sentir que eu não era o único que estava sofrendo.. Quando se vive uma tragédia dessas com alguém, forma-se uma ligação profunda e indissolúvel. Marian acabou tomando o lugar dos meus pais. Todas as férias da escola eu passava com ela. Você descobrirá que ela é uma senhora muito romântica — acrescentou. — A felicidade dela significa muito para mim, Demi. Não a desiluda, por favor. Marian acredita que nós somos uma família feliz e cheia de amor. Estou tentando lhe avisar que, se você quebrar essa ilusão, eu nunca lhe perdoarei.

                Eles atravessaram os portões de ferro batido e dirigiram se para uma casa que fez Demi prender a respiração numa mistura de encantamento e assombro. De um lado, podia-se ver o mar, e do outro, Nice. As paredes eram cobertas por antigas trepadeiras, e as janelas se abriam para um ar suavemente perfumado.

Logo que o carro parou, uma mulher alta e elegante desceu graciosamente a escadaria em frente à casa; embora estivesse muito bem-vestida, não correspondia em nada à imagem que Demi havia formado. Quando Joe saiu do carro, ela correu para abraçá-Io e olhou-o com afeição, antes de ir ao encontro de Demi do outro lado do automóvel.

— Perdoe-me, querida, esqueci as boas maneiras! — exclamou ela. — Bem-vinda à Vila Jardim. — Um braço bronzeado indicou os jardins bem-cuidados que rodeavam a vila; cobertos de oleandros e hibiscos, buganvílias repletas de flores que contrastavam com os muros de pedra clara. — E este deve ser Nicky!

O menino olhou-a, confuso, e Demi sentiu um nó na garganta quando Marian se voltou para Joe e disse:

— Oh, meu querido, ele é tão parecido com você! Você quer vir comigo e tomar um refresco? — perguntou a Nicky.

Obviamente ela está acostumada com crianças, pensou Demi com alívio. Marian não forçou Nicky a tomar uma decisão, até que ele olhasse para ela com mais familiaridade e anunciasse solenemente:

— Quero!

— Oh, espere até que Heloise os veja! — Marian deu um sorriso. — Ela está na cozinha preparando seu jantar favorito — informou ela a Joe.

— Vocês vão ficar na suíte mimosa, onde poderão sentir-se à vontade e bem isolados. Tem uma sala que dá para os jardins e de lá uma escada que conduz à nossa praia particular. Ela é um pouco acidentada, por isso nós temos a piscina. E você não deve se preocupar com Nicky. Heloise e eu adoraremos tomar conta dele. Joe me disse que você não tem passado muito bem e que precisa descansar bastante. Parece mesmo, pobre criança!

Joe estava tirando a bagagem do carro e os olhos de Joe pousaram traiçoeiramente sobre os músculos tensos daquelas costas fortes...

— Joe comentou que vocês não tiveram tempo de ter uma. Lua de mel — acrescentou Marian, deixando Demi desconcertada. — Espero que estas férias pelo menos sejam compensadoras. Agora eu vou levar Nicky até Heloise. Embora ela jamais admita, tem uma fraqueza por crianças e vai mimá-Io terrivelmente.

Demi seguiu sua anfitriã por um corredor azulejado que ia do pátio até uma sala decorada em tons de damasco e creme.

— Você deve estar querendo uma xícara de chá — ofereceu Marian com simpatia. — Vou pedir a Heloise que nos sirva enquanto Joe coloca a bagagem lá em cima.

Nicky andava de um lado para o outro da sala, olhando cheio de curiosidade para os elegantes abajures de porcelana chinesa, e Demi lhe ordenou que não tocasse em nada.

A porta se abriu e uma mulher que Demi deduziu ser Heloise entrou na sala carregando uma bandeja com chá.

Alta e forte tinha cabelos escuros jogados para trás, ressaltando um rosto marcadamente oval. Ela correu os olhos por Demi, parecendo estuda - la.

Marian as apresentou e Demi teve a impressão de que Heloise era o tipo de pessoa que expressava claramente seus sentimentos. Principalmente se achasse que algo ou alguém poderia perturbar a dona da casa.

— E este é Nicky — apresentou Marian, chamando o garoto.

Quando Heloise olhou para ele, Demi percebeu um olhar de aprovação, ficando surpresa por Nicky rapidamente concordar em ir para a cozinha com ela para tomar um copo de suco de laranja.

— Ela se dá bem com as crianças — explicou Marian quando eles saíram. — Heloise só consegue se descontrair quando brinca com crianças, e acho que elas também gostam disso. Eu nem posso lhe dizer quanto estou feliz com o casamento de vocês — acrescentou, servindo uma xícara de chá para Demi. — Mas Joe estava certo...

— E alguma vez eu errei? — perguntou Joe, abrindo a porta. Ele tinha trocado a camisa e a calça, e Demi tremeu de excitação. — Porém concordo que desta vez acertei em cheio!

— Demi — disse Marian com um sorriso —, você deve descansar um pouco. Não se preocupe com Nicky, está bem? E se vocês dois quiserem sair sozinhos, ele estará seguro conosco. Você deve cuidar de sua pele, querida. Parece que se queimou demais. Meu farmacêutico prepara um creme excelente para evitar queimaduras. Amanhã vou para Nice e aproveitarei para encomendá-Io, o que me faz lembrar que eu ainda não lhes comprei um presente de casamento.

— Não tem importância! — respondeu Joe. — Enquanto não acharmos um lugar fixo para morar, não temos onde guardar nada. Mas você pode levar Demi para que ela compre um biquíni. Minha esposa tem um corpo muito bonito, e eu não gosto de vê-Ia com roupas que não lhe ficam bem.

Marian se alegrou.

— Uma corrida pelas lojas? Ótimo, eu adoraria acompanhá-Ia! Acho que agora é um pouquinho tarde para fazer um enxoval. — Ela riu. — Mas como essa é praticamente a lua de mel de vocês, penso que podemos abrir uma exceção, não é mesmo?

— Na verdade, não é necessário — começou Demi, porém o desapontamento estampado no rosto de Marian e a expressão de aviso nos olhos de Joe a forçaram a mudar de ideia. — Mas é claro que se realmente não se importar...

Quando ela terminou de tomar o chá, Marian sugeriu que Joe fosse lhe mostrar os quartos.

— Nicky estará bem com Heloise e se vocês quiserem descansar um pouco ela cuidará dele. Aproveitem meus queridos!

Apesar de já estar preparada para ver muito luxo, Demi ainda ficou assustada ao descobrir que a suíte mimosa era, na verdade, um enorme quarto de casal com banheiro privativo, uma parede toda forrada de armários embutidos, um quarto de vestir conjugado, que Marian havia decorado lindamente para servir de quarto para Nicky, mais uma sala de estar muito bem-mobiliada com vista para Nice e um caminho que conduzia à piscina. Além disso, havia uma entrada própria que dava na vila.

— Eu preciso perguntar a Marian se o portão que leva à praia é à prova de crianças — disse Joe, enquanto Demi olhava, admirada pela janela. — Aqueles degraus são muito altos para uma criança, e as rochas podem ser perigosas.

Ele sabe nadar?

Demi respondeu que não. Algumas vezes, ela levara Nicky à piscina pública, mas sua falta de tempo não permitiu que ele a frequentasse com mais regularidade.

— Bem, eu o ensinarei enquanto estivermos por aqui. Todas as crianças devem aprender a nadar antes que cheguem à idade de sentir medo.

Os tons creme e adamascado pareciam dominar a vila, notou Demi enquanto tirava as roupas da mala e colocava no enorme armário embutido. A colcha e as cortinas tinham um motivo chinês nas cores damasco e verde, com fundo creme, e esse mesmo tema se repetia no banheiro em preto e creme.

Ela parou ao olhar para a cama. Estremeceu só de pensar que naquela noite estaria dormindo ao lado de Joe.

— Por que você não descansa antes do jantar? — sugeriu Joe, entrando no quarto. — Eu quero conversar um pouco com Marian.

E com certeza eu não sou desejada, pensou Demi com tristeza.

Ela tomou um banho e se deitou na cama, tendo o cuidado de fechar a porta do quarto. Pretendia repousar por pouco tempo antes de se vestir, apreciando o ar fresco sobre sua pele, mas estava com tanto sono que acabou fechando os olhos. Ainda fez uma tentativa para pegar o robe, mas adormeceu antes que pudesse fazê-Io.

Um vento frio bateu em seu pescoço, e Demi acordou.

Passaram-se vários minutos até que ela conseguisse lembrar onde estava. Olhou assustada para o relógio, incapaz de acreditar que havia dormido aquele tempo. Joe! Será que ele tinha vindo procurá-Ia e encontrara a porta fechada? E Nicky? O que Marian e Heloise pensariam dela? Olhou para a janela e percebeu que as cortinas estavam fechadas. Não se lembrava de tê-Ias fechado, e seu coração disparou quando viu um vulto surgir das sombras do terraço e vir em sua direção.

          — Finalmente você acordou.

Joe! Apressadamente ela tentou pegar o robe, mas ele o alcançou primeiro, medindo-a de cima a baixo e dizendo:

— Ah, não! Não faça isso... Você fica tão mais atraente sem ele. Quando entrei aqui e a vi tão tentadora, deitada na minha cama, pensei que as coisas fossem melhorar.

— Não entendo como pôde entrar. Eu tranquei a porta. — Eu sei que você trancou, mas você se esqueceu da outra entrada, minha querida esposa. Agora, como Eva tentou Adão com o fruto proibido, você despertou todo o meu apetite.

Ela tentou se afastar, mas Joe foi mais rápido. As mãos dele escorregaram pela pele macia de Demi até segurar-lhe a cintura. Seu coração batia tão forte que ela pensou que ele pudesse ouvi-Io, percebendo as exigências que aclamavam por aquele corpo.

— Eu disse a tia Marian que você não queria jantar começou ele suavemente. — Você não imaginou que eu pudesse arrombar a porta quando colocasse os olhos nesse corpo sedutor? Que pena que você já tomou banho!

Riu ao notar o tremor que a invadiu quando ele passou os dedos pelo estômago dela, antes de se deitar a seu lado.

— Tão tímida e encabulada! Se não fosse por Nicky e algumas recordações particularmente agradáveis, eu poderia até jurar que você é virgem. Lembra-se do que me disse daquela vez? Como me pediu com doçura para que eu a possuísse completamente e como gritou de prazer quando eu o fiz?

Suas mãos se moviam vagarosamente para cima e para baixo, acariciando delicadamente os seios sensuais. — Você lembra, não lembra? — perguntou ele, junto ao ouvindo dela, com voz doce e sedutora.

Demi tentou afastá-Io, a palma das mãos tremendo ao sentir o calor do corpo dele.

— Não! — Demi não sabia se essa resposta era uma negação para as palavras eróticas que ele dizia ou para o que ela mesma estava sentindo, porém Joe pareceu não ter dúvidas... Deitou-se sobre ela, prendendo-a com o peso do corpo e tentando encará-Ia.

— Não? — repetiu suavemente. — Então tenho de fazê-Ia relembrar... O ambiente era semelhante, nós estávamos deitados numa cama. Mas daquela vez você me pediu para deixá-Ia sentir todo o meu corpo contra o seu sem a interferência das roupas...

— Não! — gritou Demi, desesperada. — Eu nunca falei nada disso! .

— Talvez você não tenha falado em alto e bom som, mas seu corpo dizia claramente ao meu que era isso o que você queria. Eu até me lembro de que você me ajudou a tirar a camisa. Assim... — Joe disse com voz rouca, levando a mão dela até o próprio peito. Ele tirou a camisa de dentro da calça, puxando a mão de Demi para que sentisse o calor de seu corpo.

O coração dela batia cada vez mais acelerado ao lembrar o passado. Joe murmurou:

— Agora me mostre o que vem a seguir.

Por alguns momentos ela fantasiou, imaginando o que aconteceria. As mãos deslizando suavemente sobre a pele de Joe, os dedos acariciando cada centímetro daquele corpo, ignorando as ordens do cérebro para parar com aquela exploração sensual e canalizar as energias para expulsar aquela invasão masculina dominadora.

— Você ainda está envergonhada? — perguntou ele. Levantou-se um pouco para estudar o delicado contorno do corpo dela. — Eu me lembro de ter enfrentado o mesmo problema da última vez, apesar de termos conseguido superá-Io. Tire minha roupa, Demi. Adoro sentir você me tocando.

Ele a beijou apaixonadamente com os olhos brilhantes de desejo.

— Você me quer, querida?

Demi fez que sim com a cabeça, não confiando em si para falar. Seu corpo inteiro tremia incontrolavelmente.

— Ah, muito bem — murmurou Joe. — Agora nós estamos chegando àquela mulher que você escondeu por tanto tempo. Ela não era fria, era, Demi? .

Ela sentia que não poderia mais resistir, mesmo que tentasse, e escorregou as mãos, tateando, até os quadris de Joe.

— Hum... Eu sei — ele sussurrou, afastando-se levemente.

— Assim é melhor?

Joe pegou as mãos dela e levou-as até o próprio ventre.

Quando Demi o acariciou com os dedos trêmulos, ele gemeu profundamente, antes de beijá-Ia com paixão.

De repente, ela começou a sentir uma necessidade de total satisfação que apagou todas as outras coisas. Aproximou o corpo provocantemente do de Joe obrigando-o a explorar cada centímetro de sua pele. Como se houvesse passado de um mundo para outro, deixando a realidade completamente para trás, Demi correspondeu apaixonadamente, seus lábios pressionando os dele, sentindo cada suspiro de prazer. Dessa vez, ela não era uma jovem inexperiente que precisava ser ensinada, e seu corpo agia por ela, experimentando sensações de prazer nunca imaginadas.

No momento em que Joe ia possuí-Ia completamente, ela tentou reagir, mas a luta foi curta; seu corpo se contorcia de desejo mesmo quando os músculos se contraiam em protesto.

— Isso... Assim... Está bem — sussurrou Joe, acariciando-a para que ela relaxasse, suas palavras confundindo-se com os gemidos de prazer de Demi quando ela atraiu novamente o corpo dele com uma paixão sincera.

Ela adormeceu nos braços dele, com o corpo relaxado e os lábios ainda esboçando um suave sorriso.

Quando acordou estava sozinha. As antigas recordações voltaram no mesmo instante, e ela entrou em  pânico. Não havia sinal de Joe, e alguma coisa em seu íntimo lhe dizia que ele não estaria lá. Como num filme, todas as imagens do passado voltaram todas aquelas lembranças recomeçaram a persegui-Ia. Demi se sentou na cama, abraçando os joelhos com firmeza, olhando de um lado para outro dos espelhos quando Joe entrou.

— Demi!

Ele tentou soltar os braços dela, mas eles estavam muito tensos. Demi o encarou, revoltada. .

— Você pensou que ia deixá-Ia? — perguntou ele, compreendendo imediatamente. — Oh, Demi... — Joe tentou abraçá-Ia, mas ela recusou, com os olhos cheios de amargura.

— Por favor, deixe-me sozinha.

Ele ficou furioso.

— Há alguns momentos você não estava dizendo isso. Pelo contrário...

Demi estava desesperada. Mais alguns minutos, e Joe poderia descobrir como se sentia em relação a ele! E então riria dela!

Como um homem que se casara nessas condições poderia ser cínico com relação ao amor! Pensou totalmente aturdida.

— Foi apenas por causa de Nicky — disse ela. — Eu não quero que ele seja filho único!

Por um momento pensou que Ken a agrediria, pois ele ficou pálido de raiva.

— Meu Deus, você quer dizer que... Mas é claro que foi por Nicky. As necessidades dele vêm em primeiro lugar e, por ele, você se sacrifica, aceitando dormir comigo! Francamente, eu não sei se devo rir ou chorar.

— Você foi o primeiro a dizer que ele precisava de uma família — explicou Demi, receosa. Agora, no entanto, já tinha ido longe demais para recuar. — Era o que você também queria.

— Era? Como você sabe o que quero? Você é incapaz de saber por que também é incapaz de sentir. Você nem imagina as necessidades que motivam uma pessoa. Provavelmente deve até pensar que eu fingi... — Ele se virou repentinamente. — Um dia Nicky vai crescer e então o que você vai fazer do resto da sua vida? Em algum lugar bem no íntimo do seu ser existe uma mulher verdadeira, e eu não vou desistir até conseguir fazê-Ia renascer.

— Por quê?

— Por quê? Talvez porque você tenha me insultado como homem. Meu orgulho certamente não terá sossego até que eu a possua totalmente e a torne uma verdadeira mulher. Não se preocupe, não tentarei repetir a dose esta noite. Já aguentei demais por hoje. Você sabe como castrar um homem, não é, Demi? Bem, vou dormir com Nicky... Não suportaria dormir na mesma cama com você.

O que eu fui fazer? Pensou Demi, com tristeza, depois que ele saiu do quarto. Meu Deus, tudo estava perdido! Agora Joe não descansaria até que conseguisse subjugá-Ia e destruí-Ia completamente. Isso aconteceria se ele quisesse levar as ameaças adiante. E ela sabia que o faria.

Quando se deitou na enorme cama, pensou em pegar Nicky e fugir imediatamente, mas Joe estava com os passaportes e, além disso, ela não tinha dinheiro. Se pelo menos conseguisse sobreviver a essas férias, assim que chegassem à Inglaterra pediria o divórcio.

Adormeceu mas acordou em seguida, molhada de suor. Em seu sonho, um juiz ordenava calmo, que Nicky fosse cortado ao meio para ficar igualmente dividido entre os pais.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Capitulo VII



CAPÍTULO VII





Eles deixaram a recepção debaixo de uma chuva de arroz e pétalas de rosas, passando através dos amigos que os felicitavam, embora Demi tivesse percebido que nem Taylor S. nem Taylor L. estavam lá para se despedir deles.

— Imaginei que você não gostaria de ter uma lua de mel — disse Joe com sarcasmo enquanto eles saíam de Londres. — Embora ver você vestida de noiva me faça ficar com segundas intenções.

— Então pode esquecê-Ias. Você me mandou comprar uma roupa nova, lembra? Foi o que fiz.

— Pena que você não seja sempre tão obediente — zombou Joe. — Por falar nisso, onde vou dormir esta noite? Posso tentar adivinhar?

Demi ficou corada. Eles tinham decidido mudar para a casa que Joe alugara no dia seguinte ao casamento, e ele não se opôs a que ela e Nicky permanecessem em sua própria casa até o dia da mudança. Entretanto, ela enrubesceu ao lembrar-se do impulso que a fez arrumar o quarto de cima, colocando lençóis limpos na cama e deixando uma camisola sobre ela para que a Sra. Johnson não desconfiasse da farsa daquele casamento. Quando, porém, a mulher chegou, com o carro que deveria apanhar a noiva, Demi já estava arrependida, só que não havia mais tempo de subir e reparar o erro antes de sair de casa.

— Talvez Nicky permita que você durma com ele! sugeriu Demi, com um sorriso malicioso.

— Ou talvez a mãe dele me deixe dormir com ela, que tal?










— Não!

— Não precisa ser tão veemente — brincou Joe. — Estou me lembrando de uma vez em que você mal podia esperar para que dormíssemos juntos.

Demi ficou envergonhada e sem coragem de encará-Io. Como esse casamento poderia dar certo, se ele insistia em remoer o passado a todo o momento?

— Bem, uma vez foi o bastante para que eu nunca mais quisesse repetir a triste experiência! — exclamou ela para disfarçar o embaraço. .

De repente, o carro parou bruscamente, jogando-a contra a porta. Joe a pegou pelos ombros. Seus olhos brilhavam de raiva quando a puxou para junto de si.

— Pare de me culpar, ouviu bem? — gritou ele, possesso. — Ou vou lhe dar razões reais para que você se queixe. E enquanto estivermos aqui...

Joe a beijou com ardor, acariciando os cabelos dela. O beijo a deixou com falta de ar. Finalmente ele a soltou e a encostou no banco.

— Agora sim você parece que acabou de casar! — ele comentou, com satisfação.

— Tenho certeza de que a Sra. Johnson ficará muito bem impressionada, mas você não precisava se dar ao trabalho.

— A opinião dos outros não me interessa.

Joe já havia preparado Nicky para o seu casamento e explicado a ele as mudanças que ocorreriam na vida de ambos. Entretanto, o menino estava preocupado apenas em saber quando Joe viria morar com eles.

Nicky já adorava o pai, e Demi teve muitos momentos de ciúme ao vê-Ios juntos. Em poucos dias de convivência parecia que Nicky havia passado de bebê para um garotinho bastante esperto.

Assim que o carro parou, Nicky apareceu na porta, desvencilhou-se do abraço da mãe com impaciência antes de se virar para o pai e pedir-lhe que o carregasse.

— Eu vou colocá-Io na cama — disse Demi logo que entraram. — Por que você não leva a Sra. Johnson para casa?        — Na noite de núpcias? Nem pensar! — exclamou a Sra. Johnson, despedindo-se e dirigindo-se para a porta.







— Que tal se você me deixar colocar Nicky na cama? —Sugeriu Joe, depois de a babá ter saído.

— Você não se contenta em ser o pai dele? — perguntou Demi. — Quer ocupar o meu lugar, também? Só me faltava essa!

-Você me interpretou mal— exclamou Joe calmamente, embora estivesse um pouco tenso.

Colocou Nicky no chão, mas o garoto, percebendo o clima alterado, agarrou-se às pernas de Joe, reclamando.

— Bem, você parece cansada, e o médico disse para não se sobrecarregar, lembra? Deve estar enfraquecida, pois praticamente não comeu nada durante a recepção. Eu ia sugerir apenas que descansasse um pouco enquanto eu coloco Nicky na cama e preparo uma omelete para nós.

— Pelo amor de Deus, Joe, pare de representar!

Naquele instante, ela perdeu o controle. O que ele pretendia? Que ela se sentisse culpada e irracional? Pois estava conseguindo! Até mesmo Nicky a olhava com incredulidade.

— Eu vou cuidar de Nicky... — Demi começou a falar mas, ao lembrar o que havia feito no quarto de cima, mudou de ideia. — Está bem, se você insiste... Mas não se preocupe comigo. Se sentir fome eu mesma vou preparar alguma coisa.

Ela saiu do apartamento enquanto Joe e Nicky estavam no banheiro.

Lá em cima os últimos raios de sol entravam pela janela, refletindo-se na camisola que ela havia posto sobre a cama. Ia pegá-Ia quando de repente a porta se abriu e Joe gritou, exasperado:

— Então é aí que você está! Nicky quer o patinho dele e eu... .

Mesmo de costas para ele, Demi pôde perceber que Joe vira a camisola pela mudança no seu tom de voz, que se tomou subitamente suave.

— Muito bem, parece que depois de tudo ainda assim vou ter uma noite de núpcias — comentou-o, chamando a atenção, para a enrascada em que ela mesma havia se metido.

— Eu a coloquei aqui apenas por causa da Sra. Johnson — ela explicou, tentando se defender. .

— Ah, é? Uma mulher que há menos de duas horas disse que não se importava com a opinião dos outros? Eu não acredito.

— Isto é problema seu! Eu não dormiria com você nem se fosse o último homem na face da terra!

— E nem teria chance, se pensa que esse trapo de algodão a torna desejável — respondeu Joe, com brutalidade.

Ele pegou a camisola velha e os olhos de Demi se encheram de lágrimas. Não sabia por que tinha ficado tão magoada, mas a verdade é que aquelas palavras tocaram na antiga ferida aberta e ela desejou revidar com a mesma intensidade. Porém, a única coisa que conseguiu dizer foi:

— Pelo menos tenho o que usar! E você? Duvido que durma vestido.

— É claro que não, e até agora não tive reclamação nenhuma — ele falava sem se alterar.

Quando ela ia saindo do quarto, ele a puxou pelo braço com os olhos cheios de ironia.

— Fez isso apenas por causa da Sra. Johnson, Demi? Ou aquela outra mulher escondida dentro de você começou a dar sinal de vida?

— Eu não sei aonde você quer chegar.

A forma penetrante como ele a olhava deixou-a com falta de ar. Seu corpo tremia ao sentir o toque daqueles dedos.

Demi tentou evitar o olhar de Joe, virando-se para a frente; foi um erro, porque tudo o que ela podia ver era o peito másculo e sensual... E essa visão fez com que todas as antigas recordações acabassem voltando.

— O patinho de Nicky... — ela murmurou com voz rouca. — Por favor, deixe-me ir.

Ele a soltou, mas não se afastou. Demi sentiu então toda a masculinidade dele ao passar perto de seu corpo. O rosto dela estava vermelho de raiva só de pensar naquela intimidade forçada.



— Ainda vai demorar muito? — perguntou Nicky, pela terceira vez.

Eles estavam sentados no carro de Joe, indo para a casa nova. Demi ainda não sabia o que fazer com a antiga casa, e Joe sugeriu que seria um bom negócio alugá-Ia mobiliada durante as temporadas.

Ela mal tinha conseguido dormir naquela noite, e a conversa entusiasmada de Nicky quebrava o silêncio que pairava no ar. Na noite anterior, depois que Nicky adormeceu, ela foi direto para a cama, alegando que estava exausta e fugindo da insistência de Joe em conversar.

Ainda era início de verão, e o campo estava fresco e verdejante, embora não chovesse havia várias semanas. Certamente, com melhor estado de ânimo, Demi teria adorado o passeio.

Apesar da velocidade e do ar-condicionado que mantinha a temperatura agradável, ela não conseguia prestar atenção à paisagem, achando impossível relaxar.

A casa ficava numa pequena vila, tinha dito Joe, acrescentando que lhe daria um carro para que ela pudesse sair quando quisesse. Como Demi já sabia, pela convivência com Doug, a vida de um editor de jornal era bastante atribulada. Ele poderia ser chamado a qualquer hora do dia ou da noite para resolver alguma emergência, por isso talvez Joe preferisse estar mais perto do centro -da cidade.

Quando Demi se referiu a esses problemas, ele pareceu não se importar e disse que ficariam naquela casa por pouco tempo, acrescentando:

— Você já está querendo se livrar de mim, hein?

Ela não sabia como conseguiria suportar a presença constante dele. Um único dia de convivência fora o bastante para lhe mostrar o quanto era cansativo representar que estava levando uma vida normal.

Desse jeito acabarei tendo outro esgotamento nervoso, pensou angustiada.

Apesar de terem achado a vila com facilidade, Joe precisou parar e perguntar onde ficava a casa. Construída no final de uma alameda estreita, puderam avistar uma casa de madeira preta e branca coberta de sapé, com janelas de treliça. A casa era cercada de lírios e árvores, e Demi ficou admirada com a beleza, virando-se espontaneamente para Joe e dizendo:

— É maravilhosa! .

— Antigamente era um barracão da época Tudor, mas foi reformado e ampliado — contou Joe, parando o carro. — O jardim é grande e se não me engano parece que um jardineiro vem uma vez por semana cuidar dele. Pelo que me informaram, no quintal há um balanço para Nicky brincar. Assim você não vai subir nas árvores, certo? — dirigiu-se ao filho.

Eles saíram do carro e Joe procurou as chaves para abrir o portão. Demi ficou aliviada ao ver que o portão tinha também um cadeado. Às vezes Nicky cismava de se aventurar e assim não poderia sair.

Ela e Nicky seguiram Joe, mas o menino soltou-se da mão dela e correu atrás de um gatinho que estava no jardim.

O bichinho entreteve Nicky por alguns minutos antes de fugir e desaparecer. Logo em seguida surgiu uma borboleta multicolorida chamando a atenção do menino que, eufórico, tentava alcançá-Ia. Joe já havia aberto a porta da frente, e quando Demi ia passar por ele viu-se levantada por braços fortes.

— O que você está fazendo com minha mãe?

Era a primeira vez que Nicky demonstrava possessividade. Seus olhos estavam cheios de raiva como os do pai costumavam ficar quando parou na frente dos dois.

— Eu estou carregando sua mãe no colo para entrar na nossa primeira casa. Os outros aspectos desse casamento talvez não sejam muito comuns — Joe dirigiu-se a Demi -, mas não vejo nenhum mal em seguir os costumes nesse caso, concorda?

— Ponha-me no chão! — gritou ela.

— Por quê? Você está com medo que eu a leve pro quarto e exija todos aqueles direitos conjugais que você prometeu ontem na igreja? Com meu corpo... — ele a lembrou.

Impaciente ao ver aquela discussão, Nicky se agarrou às calças do pai, dizendo:

— Ponha minha mãe no chão!

Com um olhar gozador para Demi, Joe perguntou:

— Foi você quem lhe ensinou a dizer isso?

Para alívio de Demi, o chalé tinha três quartos grandes.

Joe subiu a escada enquanto ela arrumava as roupas e brinquedos de Nicky no menor deles.

— Acho que é demais esperar que você faça isso também para mim.

Demi fingiu não ter ouvido. Ela se sentia mal só de pensar em tocar nas roupas que haviam entrado em contato com a pele dele.



A vida começou a cair numa rotina. Apesar de Demi demonstrar ciúme, Nicky continuava se dando muito bem com o pai. Normalmente ele se levantava na mesma hora que Joe para poder vê-Io antes que saísse para trabalhar. Desde. que eles chegaram ao chalé, Joe tinha se tomado distante e não fazia mais aqueles comentários que tanto a incomodavam.

Nos primeiros dias ele chegava tarde em casa, e depois começou a passar várias noites fora, no apartamento em

 Londres. Demi tentava se convencer de que estava feliz.

A princípio, quando ele não voltava para casa, ela conseguia dormir com facilidade. Depois, seus sentimentos mudaram...

Tornou-se bastante difícil para ela dormir quando Joe não estava em casa, e Nicky acabou ficando irritadiço, perguntando a toda hora quando o pai iria chegar.

Uma tarde o telefone tocou, e uma voz masculina perguntou por Joe, apresentando-se como o dono do chalé. Ele parecia muito ansioso e, num impulso, assim que desligou, Demi discou para o apartamento de Londres, com a intenção de contar a Joe sobre o telefonema.

O telefone tocou por muito tempo, e ela já ia desligar quando alguém pegou o fone e uma voz feminina disse:

— Eu já atendi, querido. Espero que não seja do jornal. Isso são horas de telefonar?

Demi reconheceu a voz de Taylor S. e desligou sem dizer nada. Só não entendeu por que sentiu tanta dor ao saber que seu marido estava na companhia dela.



Joe voltou para casa na noite seguinte e, apesar de Demi ter prometido a si mesma que ignoraria completamente aquele telefonema, percebeu que seria muito difícil conseguir conversar com ele.

Ele colocou o paletó sobre uma cadeira e enquanto afrouxava o nó da gravata jogou-se numa poltrona dizendo:

— Meu Deus, como estou cansado!

— Talvez você devesse dormir um pouco mais — disse Demi, com doçura.

Ele estava de olhos fechados e abriu-os repentinamente, mostrando raiva e cansaço.

— O que você está insinuando? Um homem de carne e osso tem de satisfazer certas necessidades, senão acaba não conseguindo dormir. Mas é claro que você não entende nada disso, ou entende?

Jantaram em silêncio. Depois, Demi foi arrumar a cozinha. Quando voltou para a sala, começou a observar Joe, que estava adormecido, com as feições muito parecidas com as de Nicky. Desviou a atenção dele, convencendo-se de que apenas a semelhança havia despertado seu interesse, e subiu.

Já que ele gosta de poltronas, que durma aí! Não vou acordá-Io, disse para si mesma.

Demi, já estava dormindo havia algum tempo quando ouviu o telefone tocar, e na manhã seguinte encontrou um bilhete de Joe embaixo da garrafa térmica, dizendo que tinha sido chamado pelo jornal.

"Obrigado por ter me deixado dormir na poltrona", eram as últimas palavras irônicas do bilhete. Ela picou o papel e jogou-o no lixo.

Por que Joe havia se casado com ela? Para conviver mais com o filho? Mas mesmo nos fins de semana ele saía para trabalhar... Demi recusou-se a reconhecer que também estava sofrendo, embora se preocupasse em primeiro lugar com os sentimentos de Nicky.

Para descarregar o mau humor, ela vestiu um jeans e uma camiseta velha e passou quase toda a manhã cuidando das grandes jardineiras, enquanto Nicky brincava por perto, falando consigo mesmo.

Ele era uma criança cheia de imaginação e, ouvindo o misterioso monólogo, Demi percebeu que seu amor pelo filho crescia a cada dia.

Na hora do almoço, sentiu que suas pernas e costas estavam doendo de tanto ficar abaixada. Depois de cuidar do jardim, levou Nicky para dormir e entrou no banho.

O barulho de um carro parando a fez ir correndo até a janela. Ela ainda estava com os cabelos molhados quando vestiu o robe de seda. E era Taylor L. quem atravessava o jardim. Ela desceu para recebê-Io, surpresa pela visita inesperada. Ele parecia mais deprimido do que nunca.

— É Mary — disse ele com tristeza, depois que Demi lhe serviu uma xícara de chá. — Ela está querendo me abandonar outra vez. Reclama que sou maçante e que nunca a convido para sair. Também como poderia fazer isso? Joe nos obriga a trabalhar como escravas. Nossa tiragem subiu nas últimas semanas, mas ele diz que não vai descansar até que torne o Globe o jornal de maior vendagem do país. Quando chego em casa, estou tão cansado que só quero dormir, e Mary não consegue entender.

Parecia que ele ia explodir em lágrimas, e Demi teve de conter a irritação que estava sentindo. Não era de se surpreender que Mary fosse capaz de abandoná-Io novamente. A enorme insegurança daquele homem seria capaz de deixar qualquer pessoa fora de si.

— Escute Tay, você deve lhe explicar o quanto anda ocupado — aconselhou Demi. — Ou faz isso ou procura outro emprego que o desgaste menos.

— Você concorda com ela, não é? Você mudou muito, Demi. Antes costumava me ouvir e compreender, mas agora... Talvez eu devesse agir como Joe — ele falava acusando-a e agarrando-a pelos braços sem que ela pudesse impedi-lo. — Quem sabe agindo assim consiga tudo o que quero.

— Taylor solte-me! — ordenou Demi, mais indignada que assustada. — Não seja tolo. Eu não mudei. Apenas acho que, já que você e Mary estão juntos, você deveria fazer alguma coisa para melhorar a situação.

Demi percebeu que ele se acalmou, mas, em vez de soltá-Ia, encostou a cabeça nos ombros dela e disse com os olhos cheios de lágrimas:

— Oh, Demi, sinto muito.

— Você sentirá se não sair daqui imediatamente — gritou Joe da porta, e Taylor se afastou no mesmo instante. Joe estudou vagarosamente todo o corpo de Demi, com o rosto tão tenso de raiva que fez com que ela tremesse de medo. Taylor quase tropeçou depois de olhar para o rosto alterado de Joe. Ao notar que o marido estava desviando o olhar dela, Demi pediu-lhe que a deixasse explicar o que havia acontecido. Porém Joe encarou Taylor, ameaçando-o:

— E se você colocar novamente os pés aqui, eu vou dar-lhe uma surra inesquecível! — preveniu Joe, abrindo a porta.

Quando Taylor saiu, o silêncio tomou-se insuportável. Foi apenas quando ouviram o carro partir que Joe, olhou para as xícaras vazias e disse com desdém:

— Eu já ouvi dizer que as pessoas gostam de fumar um cigarro depois de fazer amor, mas tomar chá? Bem, só poderia ser hábito de Taylor. É isso que você gosta? Ou sente-se segura com ele porque na relação é você quem dá as cartas?

Como Demi não respondesse, ele gritou:

— O que está tentando fazer? Provar que eu não sou o único que posso gerar um filho com você? Bem, se for assim, nós nunca saberemos quem será o responsável pelo segundo!

Ele a alcançou antes que ela pudesse fugir, pressionando-a contra a parede.

— Joe, você não entende? Taylor... — Demi se interrompeu, sabendo que ele não a ouvia.

Joe a pegou pela cintura brutalmente e subiu a escada enquanto ela tentava se libertar.

— Eu não quero saber — disse ele, quando chegaram lá em cima.

O quarto de Demi era o mais próximo, e Joe abriu a porta, jogando-a sobre a cama e prendendo-a com o peso de seu corpo. Com uma das mãos ele lhe abria o robe enquanto com a outra lhe segurava os braços.

— Ele também olha assim para você? Meu Deus, eu já não me lembrava mais... — As palavras morreram em seus lábios quando Joe se abaixou, e como no passado, encontrou uma pequena mancha embaixo do seio.

O coração de Demi batia descontrolado ao toque daqueles lábios, ao mesmo tempo em que ela ofegava quando Joe tocava o bico de seus seios, fazendo-a gemer de prazer. O esforço de ficar deitada completamente quieta quase acabou com seu autocontrole. Ver o rosto de Joe junto a seu peito, onde Nicky muitas vezes havia descansado, a enchia de uma emoção muito forte.

 — Os carinhos dele a excitam? — murmurou Joe com voz rouca. — Ou você é tão fria com ele quanto é comigo? Eu não sou de gelo, Demi, eu a quero. Você não percebe? — Ele soltou as mãos dela e depois colocou-a sobre a pele quente de seu peito, gemendo quando os dedos de Demi tremeram ao tocá-Io. . .

Novamente aqueles lábios procuraram seus seios, dominando-a, fazendo com que ela acariciasse os cabelos dele e sentisse um toque de prazer. Subitamente Joe a olhou, e já era muito tarde para que Demi conseguisse esconder a expressão de desejo que havia em seus olhos.

— Oh, Deus, Demi!

Ele tocou cada parte do corpo dela com os lábios. Com as mãos apertava-a contra o próprio corpo enquanto tentava se livrar da camisa e da calça.

Demi podia sentir o sangue pulsando nas veias. Jogou a cabeça no travesseiro, com o corpo estremecendo convulsivamente enquanto os lábios de Joe tocavam-lhe o pescoço, atormentando-a com beijos, fazendo com que ela implorasse que ele a possuísse totalmente.

A primeira vez que ela ouviu o choro de Nicky sua mente não conseguiu registrar, e Demi só compreendeu o que estava acontecendo quando Joe ficou quieto.

— Nicky — disse com voz trêmula, incapaz de encarar Joe. O que estava acontecendo com ela? Não conseguia imaginar nenhuma desculpa lógica ou válida que justificasse aquele comportamento. Bastava Joe tocá-Ia para que se transformasse em outra pessoa.

— É melhor você ir até lá — disse ele, frio. — Você tem sorte! Mais alguns minutos e teria acontecido.

Ela detestou a maneira como Joe a observava enquanto ajeitava o robe. De costas para ele, disse furiosa:

— Taylor só veio para falar comigo. Nós não...

— Vocês não o quê? Não fizeram amor? Você acha que eu não sei disso? Você pode ser capaz de congelar sua mente, Demi, mas não seu corpo. Ele me exige, mesmo que você não me queira.

— Eu não sou Taylor S.! — gritou ela, saindo da cama, tremendo quando Joe a agarrou pelo pulso, puxando-a para trás.

— O que é que você está querendo dizer?

— Exatamente o que você pensou. — Ela se recusava a ser intimidada. — Outra noite eu telefonei para seu apartamento e foi Taylor S. quem atendeu.

— E minha esposa puritana logo chegou à conclusão de que, já que estávamos no apartamento, obrigatoriamente isso incluía cama. Você não poderia estar mais enganada. Taylor S. foi me procurar para resolver um problema de trabalho, só isso.

Joe a soltou sorrindo, e Demi pôde notar a satisfação estampada no rosto dele.  Enquanto ela confortava Nicky, que havia tido um pesadelo, Joe desceu para a cozinha como se nada tivesse acontecido.

Quando Nicky dormiu, ela também foi para a cozinha.

— Você gosta de tomar banho de sol? Com o seu tipo de pele, seria melhor que fosse se acostumando aos poucos, assim estará preparada.

— Preparada para quê? — perguntou Demi, aborrecida por ter entrado naquele jogo de palavras misteriosas.

— Eu não lhe disse?Como tenho trabalhado muito ultimamente, estou pensando em tirar umas férias para viajarmos.

— Eu não vou viajar com você. Vá sozinho ou leve Taylor S.!

Para contrariá-Ia, ele começou a rir. ' — Acho que não posso fazer isso. Nós vamos ficar uns tempos com minha madrinha e eu já disse a ela que minha esposa é morena. É claro que eu e Nicky podemos ir sozinhos.

— Nunca!

— É o que você pensa! Nicky e eu vamos de qualquer jeito, com ou sem você. Já preparei tudo, inclusive reservei as passagens para a travessia da balsa. Partiremos na próxima quarta-feira.

— Balsa? Onde mora sua madrinha?

— Oh, eu não lhe disse? Devia estar preocupado com outros problemas. Ela mora na França perto de St. Jean Cap Ferrat. Possui uma vila com uma praia particular. Nicky vai adorar.  — Ele imprimiu um tom decisivo às últimas palavras, e Demi sabia que Joe pretendia levar Nicky para a França com ou sem a companhia dela: — Bem, você vai conosco?

— Certamente não deixarei Nicky sozinho com você!

— Que esposa encantadora! — zombou ele. — Você precisará providenciar algumas coisas, não? Eu estava pensando em sugerir que a Sra. Johnson ficasse com Nicky na segunda-feira.

— Você pensa em tudo, não? Como consegue? — Demi fitou-o com raiva.

Ele parecia prever cada passo que Demi iria dar, e ela não gostava desse tipo de policiamento. Não contente em ficar com o filho, ele queria também controlar a vida dela.

— Eu tento — ele riu -, embora nem sempre tenha conseguido acertar no alvo! Você deve ficar satisfeita com esta informação, hein?

Com esse comentário enigmático ele foi para o jardim, desabotoou a camisa, jogando-a sobre a grama, e se deitou sob o sol. Seu corpo era grande e musculoso, o estômago sem nenhuma barriga. Demi observava, mas desviou o olhar com medo da descoberta que havia acabado de fazer.

Ainda o amava com paixão. Seu corpo descobrira isso antes que ela pudesse se dar conta. Só não queria que ele soubesse, pois seria uma humilhação muito grande. Demi tapou a boca com a mão para evitar um grito de agonia. Como poderia suportar passar o resto da vida com Joe, fingindo que o odiava, principalmente se ele continuasse a provoca-Ia? Desejava que ele a possuísse totalmente e, se isso acontecesse, acabaria se traindo.

Decidiu que o melhor seria manter a maior distância possível entre eles. Jamais poderia permitir que os acontecimentos daquela tarde se repetissem. Se Nicky não tivesse chorado naquele exato momento, Joe a teria possuído sem encontrar a menor resistência. Seu rosto queimava ao lembrar o comentário dele sobre o final inevitável daquele encontro.

Ela subiu para acordar Nicky e vestiu-Ihe uma camiseta e um short, sentindo-se satisfeita ao ver aqueles bracinhos e peminhas tão gorduchos!

Quando desceram, disse-lhe que fosse ao encontro do pai, tentando evitar o sentimento de ciúme, e fechou a porta quando Joe esticou um braço para, pegar o filho e o puxou para junto de si.

Como eles são parecidos! Não pôde deixar de pensar e reconheceu que a cada dia que passava Nicky estava mais apegado ao pai.