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domingo, 11 de dezembro de 2011

Jemi - Amarga Traição

CAPITULO I

Demi Lovato entrou no escritório do Daily Globe carregando uma bandeja com duas xícaras, um bule de chá, leite e açúcar. Abriu a porta de sua sala e viu um casaco masculino jogado na cadeira. Doug Simons, seu chefe, sempre recebia visitas, mas as pessoas que freqüentavam o escritório não usavam casacos tão bem talhados e caros como aquele. Demi colocou a bandeja sobre a mesa e notou que a porta que dava para a sala de Doug estava entreaberta.
— E claro que depois de ter trabalhado no Telegraph você não encontrará dificuldade por aqui — ele falava.
— Está querendo me dizer que eu poderia ter algum tipo de problema?
— Estou me referindo a Demi.
— Demi?
— Minha secretária — acrescentou Doug. — Agora, sua. No começo talvez lhe dê um pouco de trabalho... Até que ela se acostume com você.
— Talvez me dê trabalho? Meu Deus, não é de admirar que suas vendas estejam caindo! Você permite que sua secretária lhe dê ordens?
Ao ouvir essas palavras insolentes, Demi sentiu vontade de entrar na sala de Doug e exigir que lhe explicasse por que achava necessário dizer a seu substituto que ele poderia ter "problemas". Afinal, ela era a secretária mais eficiente daquele lugar!
Demi estava de férias quando soube da promoção de Doug, e, ao voltar, encontrou o jornal em grande agitação.
Doug deveria partir apenas três dias após a chegada de seu substituto. Desde que um grupo de americanos comprou o Globe, o corre-corre virou uma constante, e Demi nem se surpreendeu quando ficou sabendo que o novo chefe viria da Europa. Ela não gostava de americanos, pois em sua opinião costumavam ser impetuosos e mandões e, o que era pior, nunca aceitava um "não" como resposta.
Doug não tinha o direito de falar daquela forma!
— Por acaso ela é alguma bruxa histérica? — perguntou o outro homem com sarcasmo.
— Nada disso! Pelo contrário, tem o corpo mais bem-feito que já vi. Mas ai do pobre diabo que tentar tocá-Ia! Demi tem pavor dos homens. Não quer vê-Ios nem pintados! Sério! Deve ser algum trauma de adolescência.
— Você quer dizer que por causa de uma paixão que não deu certo ela agora sente ódio mortal dos homens? Pelo amor de Deus, o que é isto, Doug, já estamos no século XXI!
— Bem, algumas pessoas levam tudo a sério demais! Estou lhe avisando só para facilitar as coisas! Ela é a melhor secretária que já tive, dá um duro danado e é muito eficiente.
— Até pode ser. Mas se precisa ser tratada com tantos cuidados, acho que está no lugar errado.
Nos últimos meses tinha havido mudanças no jornal, e Demi ficou apavorada com a possibilidade de ser despedida. Não podia nem pensar nisso. Dependia muito do emprego, pois, além de ganhar bem, seu chefe era muito flexível com relação ao horário que ela fazia. Porém Doug estava indo embora e agora ela trabalharia para um homem que já detestava antes mesmo de conhecer.
O intercomunicador tocou, e ela atendeu com frieza.
— Demi, você poderia vir aqui um minuto? — pediu Doug. — Há alguém que eu gostaria que conhecesse.
Ela se levantou, pegando o bloco de anotações e o lápis, como costumava fazer. De pequena estatura, Demi tinha longos cabelos pretos, um rosto oval e grandes olhos castanhos. Sua pele era clara e macia, e as feições, muito delicadas. Só se percebia a amargura em seu olhar quando um homem tentava ofendê-Ia sexualmente. Com vinte e três
anos, era dona de uma tranqüilidade comum a mulheres dez anos mais velhas do que ela. "Fria e insensível" eram dois dos insultos que homens frustrados já haviam lhe dirigido, mas, ao contrário de ofender, eles eram até lisonjeiros. No tocante aos homens, suas emoções estavam enterradas, deixando transparecer, às vezes, um sentimento de profundo rancor. Apesar disso, Doug admirava sua secretária. Fria e calma quando surgia uma emergência, era a pessoa ideal para enfrentá-Ia. Todos os dias trabalhava das oito às dezoito horas e, se necessário, ficava durante o horário de almoço ou até depois do expediente. Em compensação, quando tinha algum problema, Doug mostrava-se sempre compreensivo.
As colegas de Demi brincavam dizendo que ela vivia só para o jornal, sua verdadeira família.
Ao abrir a porta, seu chefe lhe sorriu. Tinha cerca de cinqüenta anos, muita energia e trabalhava em jornais desde que havia se formado. Ele e Demi sempre se deram bem, ou pelo menos era o que pensava até ouvi-Io falar tão abertamente sobre ela. Bem casado, Doug nunca representou ameaça à sua paz de espírito.
Ela lhe retribuiu o sorriso, mas seus olhos continuaram claros e frios como vidro.
O outro homem permaneceu de costas para ela, parecendo não notar sua presença. Tinha os cabelos escuros e espessos, cortados na altura do colarinho da camisa.
— Joe, apresento-lhe sua nova secretária, Demi. Demi... Joe Jonas.
— Demi? — Ele se virou, mostrando-se assustado. Embora aterrorizada, Demi tentou não demonstrar o que sentia. Deixe que ele pense o que quiser! Mas um rápido olhar foi suficiente para perceber que ele não havia mudado em nada. Aquele rosto de traços másculos continuava ainda bastante perturbador. A pele dele estava bronzeada, os cabelos um pouco mais longos e a roupa mais formal.
— Joe precisará de toda sua ajuda até que consiga se adaptar, Demi— disse-lhe Doug, desconhecendo o que ocorria à sua volta. — Vou apresentá-Io aos outros editores e depois iremos almoçar. Qualquer coisa urgente fale com Phil, está bem?

Phil Masters era assistente de Doug, um escocês alto, forte, ruivo e bem-humorado.
Joe estendeu a mão para ela com uma expressão de desprezo e indiferença que acabou se transformando em irritação quando automaticamente Demi se afastou.
Com Doug por perto ela não podia fazer uma cena, mas o toque daqueles dedos frios em sua pele a fez estremecer.
E isso era apenas o começo...
Quando Demi voltou para sua sala, Joe murmurou algo para Doug e a porta foi fechada. O medo que ela pensava não existir mais reapareceu.
— Há quanto tempo Demi trabalha para você? — perguntou Joe, por acaso, enquanto Doug pegava o casaco.
— Há mais ou menos dois anos e meio. A melhor secretária que já tive. Pelo visto você a conhecia, não?
— A princípio pensei que sim. Ela me pareceu uma daquelas mulheres sedutoras que acabam envolvendo os homens só para depois sentir prazer em dispensá-los.
Doug não disse nada. Afinal, o que quer que tivesse havido entre Demi e Joe não era problema dele. Entretanto, pôde perceber que os dois não se entenderiam bem daquele momento em diante.
Ambos saíram do escritório e passaram por Demi, que observou o rosto indiferente de Joe. Depois, ela voltou a olhar para a máquina de escrever e ficou tentando imaginar uma maneira de não pôr mais os olhos em Joe Jonas.
Não havia saída, a não ser que ela desistisse do emprego; coisa impossível, já que precisava de cada centavo daquele salário. Fechou os olhos e subitamente estremeceu de frio.
A porta do escritório foi aberta, e Demi ficou tensa e pálida, esperando pelo pior, mas era apenas Taylor Lautner, um dos subeditores. Costumavam comentar no Globe que, enquanto ela tratava com frieza todos os homens, Taylor era seu único acompanhante masculino.
— Algum problema? — perguntou ele, fitando-a.
Doug costumava referir-se a Taylor como o "cãozinho de estimação" de Demi. Ele era nervoso e introspectivo, e os outros freqüentemente riam dele quando não estava por perto. Certa vez havia confidenciado a Demi que gostaria de ser pintor, mas que seus pais se opuseram na época.
Tinha quase vinte e cinco anos, cabelos escuros e finos e suaves olhos castanho-claros. Havia sido abandonado pela esposa duas semanas após o Natal e agora, passados três meses, ainda esperava que ela voltasse.
— Quer almoçar comigo ou você tem outro compromisso? — perguntou Taylor.
Ela não tinha nada de urgente para fazer e nem estava com fome, mas não podia ficar no escritório pensando em Joe Jonas.
Para sua surpresa, Taylor a levou até um novo restaurante, que tinha se tornado o ponto de encontro dos funcionários do Globe.
No restaurante só havia duas mesas vagas, uma de seis lugares e outra de dois, onde acabaram sentando. Como de costume, Taylor levou uns cinco minutos para escolher o prato, ao contrário de Demi, que fez seu pedido imediatamente.
Quando começaram a comer, a mesa de seis lugares ao lado foi ocupada. Demi sentia que a examinavam, mas recusava-se a olhar. Nesse instante, Taylor se voltou para lhe dizer alguma coisa e derrubou o copo de vinho sobre a saia de lã creme dela. Demi se levantou, tentando limpar a saia, e ao sentar-se viu que os ocupantes da outra mesa eram Doug, Joe e quatro outros editores do jornal.
— Sentem-se aqui — convidou Doug, chamando um garçom para juntar as mesas.
Demi desejou que Taylor recusasse, o que não aconteceu.
Logo em seguida ela se viu sentada entre Doug e Joe, enquanto Taylor havia se acomodado do lado oposto, próximo a Taylor Swift, uma das editoras.
Taylor e Demi nunca tinham sido muito amigas. Taylor era uma mulher de carreira e não fazia segredo da atração que sentia pelo sexo oposto. Comentava-se que ela conhecia intimamente todos os homens atraentes do Globe, e, vendo a maneira como olhava para Joe Jonas, Demi não teve dúvida de que ele logo entraria na lista. Virando-se para Joe, Taylor comentou:
— Há séculos que tento encontrá-lo. Você era uma celebridade por aqui, mesmo depois de ter ido para os Estados Unidos. .
Desde o instante em que Demi havia visto Joe no escritório de Doug, sabia que esse momento desagradável chegaria. Parecia ironia que depois de tanto tempo de pesadelo o         confronto acontecesse quando ela achava que tudo tinha terminado.
— O caso Myers — continuou Taylor — fez história no jornal. É o tipo de furo com que todos os jornalistas sonham. Enquanto o resto da imprensa especulava para que parte do mundo James Myers teria ido, você conseguiu descobrir que ele estava aqui o tempo todo, fazendo-se passar pelo namorado da irmã.
— O caso Myers? — perguntou Doug. — Não era aquele financista trapaceiro que todos diziam haver economizado milhões?
— Sim. Não foi um caso muito agradável — disse Joe friamente. — O homem entregou-se a uma espécie de roubo legal durante anos, mas deu uma escorregada fatal e foi descoberto. Todo mundo sabia o que estava acontecendo, mas ninguém conseguia provar, e, antes que a polícia pudesse formular uma acusação contra ele, surgiu o rumor de que tinha deixado o país.
— Só você não acreditou na viagem dele — comentou Taylor, admirada. — Como descobriu a verdade? Segundo a opinião geral, ele era quase um mestre em disfarces e ficou andando livremente de um lado para o outro durante semanas.
— É verdade. Ele pretendia deixar o país depois que as coisas esfriassem um pouco. Tive sorte.
— E uma ótima informante, se os boatos foram verdadeiros — disse Taylor, rindo. — Você conseguiu a maioria dos detalhes para sua história com a companheira de apartamento da irmã de Myers, não é verdade?
— Eu nunca revelo as minhas fontes.
Demi notou que Doug estava muito impressionado por essa aparente demonstração de lealdade, e se sentiu incomodada ao perceber os olhos de Joe sobre si; não importava que ele fingisse para os outros, ela sabia a verdade!
— Nesse caso você não precisa revelar — disse Taylor. — Eu gostaria de saber o que aconteceu com aquela garota. Até se pensou que ela fosse cúmplice.
— Cúmplice? Mas... — Joe se deteve, e Demi observou o abalo momentâneo com amarga satisfação.

— Certamente você sabe — comentou. Taylor.
— Como editor de um jornal é preciso saber e não simplesmente ir admitindo o que parece óbvio — respondeu Joe.
— Foi uma reportagem muito inteligente — observou Doug, entrando na conversa.
— Inteligente? — Demi retrucou sem conseguir esconder o ódio em sua voz. — É o que todos vocês pensam? Que é inteligente destruir a vida de alguém apenas para conseguir uma história de primeira página? Bem, eu não penso assim. Acho esse tipo de atitude desprezível, abominável! — Ela parou, percebendo que os outros trocavam olhares perplexos.
— Vamos, amor, você não acha que está levando isso para o campo pessoal? — comentou um dos homens.
Por alguns instantes Demi ficou pensativa.
— Algo errado, Demi? — Ken deu ênfase ao nome dela. — Parece que você não está gostando do almoço.
— O almoço está ótimo, mas, se vocês me permitem, eu tenho muito trabalho a fazer — respondeu, levantando-se.
Ela havia se afastado bem pouco da mesa quando ouviu Demi exclamar com triunfo:
— Devonne Walker, este era o nome da garota!
Demi ficou gelada. O medo tomou conta de seu corpo, e ela começou a suar frio.
— Devonne Walker — Joe repetiu, e Demi sabia, mesmo sem olhar para trás, que ele a observava.
Foi com esforço que conseguiu voltar ao escritório e sentar, pois sua vontade era apanhar o casaco e sair antes que Doug e Joe regressassem.
Pegou a lista telefônica e discou o número de uma conhecida agência de empregos. A garota que atendeu foi prestativa, mas informou que talvez levasse meses até que pudesse encontrar uma colocação que fosse tão bem remunerada como a sua atual.
De repente, a vida de Demi havia se transformado num terrível pesadelo. Devonne Walker... Quando deixou esse nome, livrou-se também do passado... Pelo menos durante todo aquele tempo tentou se convencer disso. Havia muitas recordações ainda vivas! Mudou de nome depois que as atenções dos jornais se tornaram insuportáveis. Era irônico que ela agora trabalhasse para um jornal, mas fora mais por necessidade que por vocação. Precisava de um emprego onde pagassem bem e de patrões que estivessem dispostos a contratá-Ia sem se aprofundarem muito em seu passado. Isso ela encontrou em Doug no Daily Globe.
Ainda se sentia mal ao pensar em como tinha sido tola confiando em Joe Jonas. Encontrou-o pela primeira vez no apartamento que dividia com Ashley Myers. Ele havia ido até lá para entrevistar Ashley para um artigo da coluna social.
Demi e Ashley tinham crescido na mesma cidadezinha.
Ashley era a filha mimada do dono de quase toda a cidade, Sr. Arthur Myers, e Demi a conheceu por intermédio de seu pai, que era o médico da família Myers. Haviam freqüentado a mesma escola, mas não eram muito amigas.
Foi somente com a morte do pai e da mãe de Demi, com o intervalo de apenas seis meses entre um e outro, que elas acabaram se aproximando.
O pai de Demi não era rico. Tinha alguns investimentos e a casa que ela vendeu, após a morte dele, seguindo as instruções do advogado. Pretendia ir para a universidade, mas, tendo medo de gastar o pouco dinheiro que possuía, decidiu investir e freqüentar um curso de secretariado. Foi então que Ashley Myers sugeriu que elas dividissem o apartamento. Ashley não pretendia seguir a carreira de secretária; suas ambições nunca foram tão modestas. Os pais lhe pagaram um curso de manequim, do qual ela saiu insinuante e sexy, e o trabalho ocasional como modelo mais a mesada lhe deram um estilo de vida bem diferente do de Demi.
Bem antes de terminar o curso, Demi já estava arrependida de morar com Ashley. Não concordava em participar das festas noturnas, bastante freqüentes, e sentia-se constrangida com os encontros amorosos dela. Mas, como pão podia arcar sozinha com as despesas de um apartamento, era obrigada a suportar tudo aquilo.
Conhecia James Myers apenas de nome. Susan era filha do segundo casamento de Sr. Arthur e, embora se vangloriasse do sucesso do meio-irmão, nunca o levara ao apartamento. Demi não fazia questão de conhecê-Io, pois não gostara das informações que os jornais tinham dado a respeito dele. Mas quando a história explodiu, ninguém acreditou que ela fosse totalmente inocente, e a única pessoa que podia confirmar isso não o fez.
Joe deve ter ficado satisfeito por não encontrar Ashley naquela noite. Demi disse-lhe que ela demoraria a chegar, mas ele não demonstrou a menor pressa em ir embora. Eles conversaram bastante e, pela primeira vez desde que seus pais tinham morrido, ela não se sentiu completamente sozinha. Quando Joe a convidou para sair, não hesitou em aceitar e nem suspeitou que as perguntas dele tivessem outro interesse como objetivo.
Certa noite, ele a levou para jantar e, quando voltaram, encontraram Ashley e o novo "namorado" no apartamento.
Os jornais diziam que James Myers era um verdadeiro mestre em disfarces e certamente nunca passou pela cabeça de Demi que aquele rapaz fosse o irmão de Ashley. Ele ia freqüentemente ao apartamento, e os dois sempre se trancavam no quarto dela. Qualquer coisa que porventura Joe tenha lhe perguntado a respeito de Susan e do "namorado", Demi inocentemente deve ter lhe respondido. Foi ela quem lhe informou, por exemplo, que Ashley estava de partida para o exterior, para fazer um trabalho corno modelo, sem ao menos sonhar que se tratava apenas de urna cobertura para que James Myers pudesse sair do país com passaporte e documentos falsos.
Naquela noite, lembrava-se bem, Joe fora bastante amoroso. Eles saíram da cidade e passaram para beber um suco num barzinho às margens do Tâmisa. Fazia calor, e ela estava usando uma camiseta de malha fina e urna bonita saia de algodão. De repente, Joe passou um dos dedos pelo decote da camiseta, tocando-a nos seios e deixando-a muito excitada.
Como podia alguém tão atraente se interessar por ela? No carro, ele a puxou para junto de si com uma intimidade que fez com que estremecesse. Nem por um momento Demi teve dúvidas do que estava sentindo. Quando Joe a beijou, ela correspondeu, confiando completamente nele.
Voltaram ao apartamento em silêncio. Foi então que tudo aconteceu... O corpo de Demi estava leve e seus olhos cheios de amor quando ela o encarou. Mais tarde, se lembraria de como Joe havia estacionado o carro e dito apaixonadamente: "Não me olhe assim..." Que tola tinha sido ao pensar que, olhando-o daquele jeito, ele não seria capaz de se controlar! Se soubesse! Durante todo o tempo Joe fora um ótimo ator, frio e calculista, manipulando-a como uma marionete.
O apartamento estava vazio. Ashley tinha ido visitar a família no fim de semana, pois seu pai não estava passando bem.
Joe tomou Demi nos braços, beijando-a com uma paixão que a deixou indefesa. Ela se recordava de ter protestado, dizendo que ia fazer café, mas Joe sorriu e lhe falou que tinha outros planos em mente.
A mão forte escorregou para dentro da camiseta e começou a acariciar os seios dela. Quando Joe abaixou a alça e beijou a pele que antes havia percorrido com suavidade, Demi estremeceu.
— Você é linda — disse ele ao mesmo tempo em que a despia.
Ela sabia que não estava agindo certo, mas os argumentos que tinha eram pouco convincentes. Como poderia ser errado aquilo que sentia em relação a Joe? Tudo era maravilhoso...
Demi não se lembrava de como foram para o quarto, mas recordava claramente do calor do corpo de Joe contra o seu; da sensação diferente que a masculinidade dele provocava a cada novo toque; da necessidade que crescia e se espalhava por todo seu corpo, deixando-a trêmula de tanto desejo.
O pensamento de posse não a amedrontou, as maneiras suaves de Joe tinham afastado esse medo. Mas ela não esperava aquele repentino desejo que tomou conta dela, afastando todas as barreiras da inocência e inexperiência.
Joe a acariciava suavemente, levando-a a uma loucura incontrolável, antes de possuí-Ia completamente. A dor era intensa e profunda, e Demi gritou para que ele parasse, mas seu grito foi ignorado. Por um momento a dor e a mágoa se transformaram em ressentimento, e ela começou a lutar contra aquele domínio. Mas, como se Joe já esperasse por isso, o corpo dele a fez sentir depois da dor o prazer, um prazer que Demi nunca havia conhecido, e seus gritos tornaram-se vagarosamente murmúrios de desejo.

Ela adormeceu nos braços dele, tendo certeza de que não havia felicidade maior. Não se envergonhava do que acontecera. Tinha sido natural e bonito, e Demi sentiu-se gratificada pela paciência e habilidade de Joe.
Na manhã seguinte, ela ainda experimentava as mesmas sensações, mas num clima diferente. Enquanto dormia, Joe havia revistado o apartamento e descoberto a falsa identidade de James Myers. Ele conseguiu a primeira página do jornal, e Demi só ficou sabendo disso quando chegou ao serviço.
Viu o artigo e reconheceu o nome Myers assim que começou a lê-Io. A matéria estava assinada por Joe, e ela ficou tão abalada que seu chefe a dispensou. Quando chegou ao apartamento, havia vários repórteres e policiais e nenhum deles a tratou com gentileza. Os jornais a descreviam como "a informante de Joe".
Ashley voltou do campo com os pais, e Sr. Arthur fora extremamente rude ao usar a influência que tinha. No fim da semana, o chefe pediu para que Demi arrumasse outro emprego. Ela trabalhava num escritório de advocacia e, como ele disse, com grande embaraço, os clientes não confiariam numa firma cuja funcionária tivesse traído a confiança de amigos.
Ela sentiu vontade de esclarecer todo o equívoco, porém seu orgulho era mais forte e permaneceu calada. Seu único crime foi imaginar-se amada, pois jamais diria uma palavra que pudesse quebrar a confiança de alguém.
A polícia a interrogou exaustivamente. E quando Sr. Arthur morreu de um ataque cardíaco, logo após ter ido para o tribunal, Demi recebeu uma avalanche de cartas terrivelmente acusadoras. Foi quando decidiu trocar de nome.
Por três meses viveu num verdadeiro inferno e daquela época em diante não ouviu mais falar de Joe. Tampouco tentou encontrá-Io. Apenas o orgulho tinha lhe dado forças para atravessar aquela fase, mas a confiança em si e a inocência nunca mais voltariam...
A porta foi aberta, apagando o passado. Demi desviou os olhos da lista telefônica para olhar Joe. Ela correu o dedo pela lista até parar numa agência de empregos.
 — Você está sem sorte? — ele perguntou sarcasticamente.
Demi tentou não responder; fechou a lista e colocou uma folha na máquina.
— Desculpe Sr. Jonas.
— Sr. Jonas? Nós não precisamos ser tão formais, Devonne!
— Não me chame assim! — gritou ela.
— Por que não? Esse não é o seu nome?
— Não é mais. Eu o enterrei, com o passado.
— Muito bem. Diga-me, Demi, você trouxe alguma coisa da Devonne com você, quando resolveu mudar sua personalidade?
— Nada — afirmou. Por que ele queria relembrar um passado que ela tanto desejava esquecer?
— É uma pena! Pelo menos ela era quente... Uma mulher viva.
— Que você matou!
— Por que está dizendo isso?
Quanta inocência pensou amargurada. Como ele podia perguntar-lhe isso? Não a tinha usado friamente até conseguir a história que lhe interessava e depois a abandonara?  Ken sabia como ela se sentia em relação a ele, nunca fora segredo. Ele era inteligente, devia imaginar como ela reagiria, e quanto ficara angustiada. Demi soube por intermédio de um fotógrafo que trabalhava com Joe, num encontro casual três meses depois, que ele havia partido para o exterior e que a carreira dele estava no auge.
— Quer dizer que não ficou nada do passado? — insistiu Joe.
Ele a olhava intensamente. O que ele queria agora? Demi tentava imaginar.
— Nada.
— Não minta Demi! — gritou ele, com raiva. — Eu vi seu rosto quando você entrou no escritório. Você me odeia, não é?
— É lógico! O que você esperava? Depois de tudo o que me fez...
Ele a observou por alguns instantes e depois continuou:
— Você está certa. A Devonne que conheci não teria ficado tão ressentida nem teria se tornado tão amarga. A Devonne que pensei conhecer nunca... — Ele parou de falar e se aproximou dela, encarando-a.
Demi pensou notar algum tipo de emoção nos olhos dele que, se existiu, desapareceu instantaneamente. .
— Você está segura de si. Já disse o que queria, mas eu não pretendo trabalhar com uma secretária que olha para mim desse jeito. Por isso, se eu fosse você, procuraria mudar de idéia. — Indo em direção à porta, continuou: — Pelo menos uma coisa não mudou se é que as fofocas são verdadeiras. Parece que você ainda sente prazer em chutar os homens, com uma única e notável exceção.
Demi engoliu em seco ao ouvir aquela acusação e ao perceber o sorriso cínico que acompanhou as últimas palavras dele. Ia pedir uma explicação, quando Joe prosseguiu:
— Parece que você não vai mudar em relação a mim, Demi. Você me odeia e me despreza certo?
Como ela não respondesse, ele perguntou:
— Por isso você acabou escolhendo Taylor? Ele não é um homem... É um palerma!
Demi empalideceu, e ao erguer o olhar viu Joe saindo da sala. Não conseguiu conter as lágrimas.

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