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domingo, 1 de janeiro de 2012

CAPÍTULO V

CAPÍTULO V


— Então a resposta é sim?
Joe estava de costas para ela, olhando na direção do jardim. Ele chegara quando Demi colocava Nicky na cama. Por causa do braço quebrado, o menino tinha ficado dentro de casa o dia todo e os brinquedos estavam espalhados pela pequena sala de visitas. Demi resolveu tomar um banho e relaxar, mas ouviu um carro parando do lado de fora.
Ela não havia dormido na noite anterior, por isso estava tensa e muito abatida. Joe pôde perceber as olheiras profundas e a expressão desanimada de Demi através do vidro da janela. Quando finalmente a fitou, ela sentiu uma vontade forte de pegar Nicky nos braços e fugir para bem longe dali...
Mas foi pensando na felicidade do filho que decidiu aceitar a proposta de Joe. Não podia deliberadamente privar o filho da figura paterna. Sabia que mais tarde ele não a perdoaria se isso acontecesse. Até então ela só tinha se preocupado com o bem-estar de Nicky e, embora não desejasse aquele casamento, precisava reconhecer que haveria certas vantagens... Seu filho teria a segurança material tão sonhada por ela e uma vida muito mais confortável.
Se Miley e Nick não fossem partir, Demi teria encontrado coragem para desafiar Joe. Mas, sem a ajuda deles, seria impossível dar a Nicky a base estável de amor e segurança que toda criança devia ter. O que mais a atormentava era o medo de que Joe conseguisse tirar Nicky dela judicialmente.
— Só estou concordando por causa de Nicky — ela disse, com amargura. .
— E claro! — O tom irônico de sua voz a deixou preocupada.
Durante todo o dia Demi esperou angustiada que o momento decisivo chegasse. Agora, Joe estava à sua frente observando-a intensamente, sem que ela conseguisse parar de tremer. No fundo, ela sabia que, uma vez dada à palavra, jamais poderia voltar atrás.
— Quando... — ela começou a perguntar, mas as palavras não saíram. Tentou falar novamente, mas não conseguiu. Entrou em pânico quando viu Joe caminhando em sua direção... Já não podia enxergá-Io com nitidez, as imagens se confundiam. Ouvia vagamente as palavras que ele pronunciava, sem, contudo, compreendê-Ias. De repente, sentiu que estava caindo num poço escuro e profundo.
Quando Demi voltou a si, escutou uma voz masculina e Um tanto paternal, Forçando a vista, reconheceu o médico.
— Há anos ela vem exigindo demais de si mesma. Cuidar de um garoto de dois anos não é fácil e pelo que vejo ela anda sobrecarregada. Mas segundo você me informou as coisas vão melhorar para ela.
— Sim, nós vamos casar assim que for possível.
— Bem, não há razão alguma para adiar. Quanto mais depressa toda essa excitação passar, e ela puder relaxar, melhor.
Demi se mexeu com impaciência, indignada com o fato de ficarem falando dela como se fosse um objeto inanimado.
Joe estava de pé ao lado da cama e, percebendo o movimento, tocou o braço do médico.
— Bem, minha jovem — disse ele com animação -, como se sente agora?
— Fraca — admitiu. Ela estava em sua própria cama e podia ver o sol brilhando através da janela. — Nicky? Tentou sentar.
— Nicky está bem — assegurou Joe. — Telefonei para uma agência especializada nessas emergências. A Sra. Johnson levou Nicky para dar um passeio.
O médico estava fechando a valise e preparava-se para sair.
— O que aconteceu? — perguntou Demi, ainda meio tonta.
— Ao que parece você passou por maus momentos e está com um esgotamento nervoso. Seu filho sofreu um acidente, e o choque que você levou provavelmente foi muito grande. Digamos que tenha sido a última gota... Seu sistema nervoso explodiu fazendo com que toda a tensão acumulada viesse à tona... Por isso, você perdeu os sentidos. Portanto, de hoje em diante, tente manter-se calma e cuide mais de sua saúde, está bem?
Ele apanhou a valise, e Joe o acompanhou até a porta.
Várias horas da minha vida se passaram sem deixar qualquer marca, pensou Demi. Ela podia lembrar apenas de uma horrível sensação de inconsciência se aproximando e depois... Mais nada.
— Você está melhor? Podemos conversar?
Ela concordou com a cabeça; Talvez a perda de consciência tivesse sido uma fuga involuntária para escapar de Joe e do casamento. Tudo podia ser possível. Demi estava usando uma camisola curta de algodão e não se lembrava de tê-Ia vestido.
— Você... Você trocou minha roupa?
— Não entre em pânico. Eu não tentei satisfazer meus desejos com seu corpo indefeso, se é isto que está pensando.
Correu os olhos pelo corpo dela e um brilho surgiu neles quando Joe notou que ela havia corado.
— Já fiz todos os preparativos para o casamento — disse calmamente. — Na data marcada, a Sra. Johnson cuidará de Nicky. Pedi que ela fizesse as malas com as roupas dele e com as suas. Não quero que se repita o que aconteceu ontem à noite. Não seria nada agradável se minha noiva desmaiasse a meus pés. — Ele passou os dedos pelo queixo. — Acho que você não tem um barbeador, não? Eu subi para saber se Nick podia me emprestar o dele, mas ninguém respondeu.
— Eles tiveram de voltar para a Itália. O irmão de Nick sofreu um acidente e não está passando bem.
— Precisamos procurar uma casa, mas só quando você estiver se sentindo melhor — comentou Joe friamente. — Você e Nicky podem ficar no meu apartamento. Não pretendo passar mais nenhuma noite em seu sofá duro. Eu gosto de dormir e fazer amor em ambientes mais confortáveis.
— Não haverá nenhum "ato de amor" entre nós, Joe, e mudar para o seu apartamento estão fora de cogitação. Nicky precisa de um jardim para brincar. Você não pode engaiolar uma criança num apartamento.
— Nenhum "ato de amor"? Você não poderia esperar até que eu tentasse? — Joe falava suavemente. — Se o apartamento está fora de cogitação, o que você sugere? Aqui não há quartos suficientes para nós três. — Ele olhou com desdém para o pequeno quarto e para a cama de solteiro. — Ou você está pensando em me mandar para o andar de cima?
Era exatamente isso que Demi havia imaginado. Seu corpo tremia sob os lençóis ao lembrar as insinuações dele.
Joe não tentaria nada... Ou tentaria?, Demi pensava, com nervosismo.
— Seria uma ótima solução você usar o apartamento de cima — comentou ela, tentando parecer lógica. — Nicky ainda não está muito acostumado com você...
— Não! Nós estamos nos casando para dar uma família para ele, não um pai que cumpra um horário de visitas estipulado por você. Se você não quer morar no meu apartamento, muito bem, então procuraremos uma casa.
— De acordo! Assim poderíamos adiar o casamento até encontrar uma. — Seus lábios estavam secos, e Demi desviou o olhar de Joe enquanto rezava para que ele concordasse o que não aconteceu.
— De forma alguma. Dentro de três dias estaremos casados, mesmo que eu tenha de carregá-Ia para o altar. Preparei tudo com antecedência e já providenciei os papéis necessários. Agora, descanse. Preciso ir ao escritório. A Sra. Johnson voltará logo e recebeu ordens expressas para não deixá-Ia sair dessa cama. Até logo!

A Sra. Johnson mostrou ser uma mulher muito maternal e eficiente. Tinha quase quarenta anos e seguiu as instruções de Joe ao pé da letra. Nicky teve permissão para entrar no quarto da mãe na hora do almoço e conversou alegremente com Demi enquanto ela comia uma maionese de frango.
— Logo eu terei um pai e nós vamos morar com ele numa casa nova — ele disse, cheio de orgulho.
Joe não perdeu tempo! Informou o filho de todas as mudanças, Demi pensou com amargura, não podia ter deixado para ela contar as novidades? Ou não confiava que ela o faria sem colocar Nicky contra ele? Demi sentiu-se ressentida. Só queria o bem de seu filho e nunca faria algo que pudesse prejudicá-Io.
Nicky estava tão acostumado a ter só a mãe que ela não imaginava qual seria a reação dele diante da presença de uma terceira pessoa na pequena família. Geralmente os meninos não aceitam com facilidade que a mãe case e se dedique a outro homem. Porém, Nicky parecia satisfeito e, no caso de Demi, não haveria problemas, pois ele não assistiria a cenas de intimidade entre ela e Joe.
Pela primeira vez, Demi ficou curiosa em saber a opinião de Joe sobre o casamento. Casar com ela significava não satisfazer os desejos naturais masculinos. Será que ele achava que Nicky compensaria o sacrifício? Ou ele continuaria vivendo livremente e buscando outras mulheres? Ela ficou abalada com a intensidade da raiva que sentia. Que interesse poderia ter no que Joe faria da vida dele?
Na hora do lanche, ela quis se levantar, mas a Sra. Johnson foi inflexível e não permitiu. Ela havia dado pão com manteiga e ovos para Nicky comer, e o menino estavam entusiasmado com o lanche quando Demi abriu a porta da cozinha.
— O Sr. Jonas me disse que a senhora não deveria sair da cama de modo algum — protestou ela.
— O Sr. Jonas não dá ordens por aqui — replicou Demi.
Seus cabelos estavam oleosos, e ela queria lavá-Ios. Além disso, já estava cansada de ficar deitada pensando em Joe.
Depois de Nicky ter terminado o lanche, ela agradeceu à Sra. Johnson pela ajuda e dispensou-a com firmeza. Nicky conversou alegremente enquanto tomava o banho e depois eles fizeram todas as suas brincadeiras favoritas.
É espantoso como ele aprende as coisas a cada dia que passa, pensou Demi, orgulhosa, ouvindo-o contar-lhe como tinha sido o dia dele.
— Quando meu pai vai voltar? — ele perguntou repentinamente.
Joe não havia dito quando voltaria. Nem entrou em detalhes quanto aos preparativos do casamento. Se ele não lhe telefonasse no dia seguinte, ela teria que fazê-Io.

Nicky a olhava indeciso, e Demi respirou fundo, dizendo a si mesma que precisava começar a preparar o filho para as mudanças que aconteceriam. .
— Eu não sei exatamente quando ele virá — disse, com cuidado. — Provavelmente logo.
— E então nós iremos morar com ele para sempre?
— Espero que sim. — Ela o tirou do banho, enxugando-o rapidamente.
— Nós não vamos mais morar aqui? — perguntou ele subitamente, franzindo a testa. -Nós vamos embora como Miley?
— Talvez. Agora vamos. Que brinquedo quer esta noite?— Ela tentou desviar o assunto.
Demi colocou o filho na cama com um dos brinquedos enquanto foi tomar banho e lavar os cabelos; enxugou-os rapidamente antes de colocar um roupão fino e voltar ao quarto dele.
Ela havia acabado de entrar no quarto quando a porta se abriu e Joe entrou. Tirando o paletó, jogou-o sobre a cama e afrouxou a gravata, num gesto de intimidade que a deixou tensa.
Joe sorriu para Nicky, que o olhava indeciso. Demi observou-o sem se surpreender pelo fato de suas mãos estarem tremendo. Havia algo que ela deveria fazer mesmo que a magoasse, mas que precisava ser feito pelo bem de Nicky. Inclinando-se sobre a cama, Demi disse suavemente para o filho:
 — Veja quem está aqui, Nicky! E seu pai.
Houve um momento de silêncio, e ela sentiu o olhar incrédulo de Joe e a incerteza de Nicky. Então Joe se sentou ao lado dela na cama, olhando para o rosto do filho, e disse, com voz rouca:
— Olá, Nicky!
Quando Demi fechou a porta do quarto e saiu, começou a chorar. Ela não se lembrava de já ter sentido tanta dor antes, a não ser na ocasião em que descobrira que havia sido enganada por Joe. O que ele estaria dizendo a Nicky? Será que estava tentando conquistá-Io só para si?
Foi para seu quarto, sentando-se em frente à penteadeira e escovando os cabelos, o que a distraiu por algum tempo.

Entretanto, não conseguiu conter-se quando Joe entrou no quarto e encontrou-a de joelhos com a cabeça entre as mãos e o secador jogado no chão.
Ele já estava ao lado dela antes que Demi tivesse notado sua presença. Joe a pegou pelos braços para levantá-Ia, — Obrigado — disse ele suavemente. — Foi muito gentil de sua parte fazer aquilo.
— O que eu disse a Nicky em relação a você? Tudo bem...
Se ele percebeu a ansiedade dela e quis saber a razão, pelo menos não demonstrou.
— Ele já está dormindo. — Joe tocou o rosto dela com os dedos e viu que estava molhado. — Oh, Demi — ele protestou com doçura, trazendo-a para junto de si — casar comigo é tão terrível a ponto de você chorar?
— Eu não estou chorando — respondeu, mas as palavras foram sufocadas pelo peito dele. Há anos que não chorava, e ela odiou-se pela fraqueza que a invadiu, mas não conseguiu parar. Queria dizer a ele que a deixasse em paz, porém seu corpo estava colado ao dele enquanto Joe procurava consolá-Ia com suavidade.
Como se as lágrimas estivessem derretendo o gelo, Demi podia sentir seu corpo revivendo ao toque das mãos de Joe, e as sensações que ela havia esquecido completamente foram surgindo e dominando-a inteiramente. Ele colocou as mãos por dentro do roupão dela, acariciando a pele trêmula. As emoções contidas havia anos procuraram satisfação imediata e Demi cedeu ao toque dele sem pensar, com a força de vontade anulada por uma necessidade antiga que nada poderia deter.
Ela o abraçou cegamente, sem perceber que ele a havia erguido e levado para a cama estreita.
Demi soltou um gemido suave. Todo seu corpo estremeceu em resposta ao beijo dele, e apaixonadamente se aproximou, até que Joe segurou-lhe as mãos e a manteve afastada dizendo com a voz entrecortada de desejo:
— Ninguém a toca há anos, não é? Tudo estava apenas à espera, escondido bem no fundo e precisando apenas de um toque para se soltar. Bem, está livre agora — disse ele, puxando-a de encontro ao corpo. — Sinta o que você está provocando em mim, Demi. Eu quero fazer amor com você, mas agora sem enganos. Não quero ser acusado uma segunda vez.
As palavras dele esfriaram todo o desejo, fazendo com que Demi voltasse à realidade e não aceitasse o instinto como algo natural. Ela ficou pálida e angustiada.
— O que aconteceu, mudou de idéia? — Joe a encarava. — Por um momento você foi mulher. Não pode se esconder para sempre. A qualquer momento essa mulher que existe aí dentro destruirá esse seu mundinho sem emoções.
Demi ficou horrorizada. O que tinha acontecido com ela? Como podia ter se entregado totalmente? Empurrou-o, revoltada. O que ele estaria pensando? Agora era impossível se casar com ele. Pálida e com raiva, ela resolveu desafiá-Io:
— Continue, então. Prazer! É isso o que você quer, não é? Estava pensando que seria fácil me excitar? Oh, Deus, como eu odiei você!
O rosto de Joe estava quase tão pálido quanto o dela.
— É realmente o que pensa? — ele respondeu, com fúria. — Que eu faria isso deliberada e insensivelmente?
 Demi não podia dizer por quanto tempo eles ficaram se olhando com mútua amargura. A única coisa que ela sabia é que, quando conseguiu desviar os olhos dele, estava tremendo incontrolavelmente.
— Você já fez isso antes.
— E desde então você não deixou que nenhum outro homem entrasse em sua vida, não é?
Ela riu, parando apenas quando ele a sacudiu com força.
— O que é tão engraçado? — perguntou ele, rude.
— Eu deixei que um homem entrasse na minha vida. Seu filho. E é por isso que representaremos essa farsa toda que será o nosso casamento.
— Agora é tarde para voltar atrás — avisou ele. — Nicky...
— Sim, eu sei. E pelo bem de Nicky que estou fazendo isso. Ouça bem, que uma coisa fique bem clara entre nós, Joe. Eu não quero me rebaixar a ponto de manter novamente uma relação sexual com você sem amor.
Ele a estudou por alguns momentos, com uma expressão que Demi não compreendeu, e então ela voltou a corar quando Joe disse vagarosamente:
— E se fosse com amor?
Demi rejeitou essa possibilidade. No entanto, o intenso desejo que a dominava provou que o passado ainda estava bem vivo. Procurou reprimir a emoção declarando, com indiferença:
— Eu não amo você! Isso basta?
O toque do telefone quebrou o silêncio constrangedor.
Joe saiu da cama, foi até a sala e deixou Demi para trás amarrando o roupão. Ela o seguiu, cheia de ressentimento.
— Era para mim — disse ele calmamente, recolocando o fone no gancho. — Eu deixei o número do seu telefone no jornal.
Quem seria? Taylor S? Mas por que estava se preocupando?
— Surgiu um problema, e eu preciso ir até lá — disse Joe como se tivesse percebido as suspeitas dela. — Eu vim para lhe dizer que encontrei uma casa. Alguns amigos meus que moram no centro de L.A vão para o Reino Unido por um ano e podem deixar a casa para nós, o que nos dará tempo de achar o que realmente queremos. E isso também significa que você não ficará cansada procurando em imobiliárias. Você já pensou no vestido de noiva?
A pergunta apegou desprevenida.
— O que você quer dizer?
A impaciência dele pairava no ar. .
— O que estou tentando saber é se você quer que eu arranje alguém para cuidar de Nicky enquanto sai para comprar um vestido de noiva. Veja, eu não estou sugerindo um vestido branco, com uma cauda imensa e cheio de rendas. e pérolas — disse ele enquanto ela, tomava distância — mas a maioria das mulheres parece considerar o casamento uma boa desculpa para comprar uma roupa nova.
— Bem, eu não sou a maioria das mulheres. Se eu fosse usar algo apropriado à minha situação, provavelmente iria  de luto!
Por um momento ela pensou que tinha ido longe demais. Ele estava furioso, mas, quando Demi deu um passo para trás, a raiva deu lugar a um sorriso zombeteiro que a deixou mais preocupada ainda.
— Você realmente quer tornar as coisas mais difíceis para si mesma, não é? — disse ele, suave. — Amanhã você vai sair e comprar algo apropriado para o casamento. Acho bom seguir meu conselho, caso contrário terei o prazer de, pessoalmente, despi-Ia e vestir as roupas em você. Entendeu?

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